sábado, 13 de junho de 2015

Coping Religioso /Espiritual na Psicoterapia

Muitas doenças físicas ou psicológicas são acompanhadas de um quadro clínico complexo, muitas vezes com alto grau de morbidade. Muitos traumas são acompanhados de consequências psíquicas significativas que afetam a experiência dos pacientes internados ou não, com ou sem acompanhamento psicoterapêutico. Muitos tratamentos clínicos simplesmente mitigam os sintomas da doença e preservam a vida, porém não são curativos e nem garantem a qualidade e o bem-estar. Ao contrário, o processo de tratamento pode ser difícil e doloroso, mesmo sendo essencial, e por isto ele transforma a vida do paciente, sua rotina, hábitos, relacionamentos interpessoais, o que causam mudanças em sua integridade física e emocional, afetando diretamente a vida social, profissional e familiar, incluindo até mesmo a perda da autonomia.

Ocorre que o paciente deve buscar adaptar-se ao tratamento, à própria doença em si, e a todo desconforto fisiológico que muitas provocam, e esta adaptação inclui não somente o aspecto psicossocial, mas também o espiritual. As pesquisas comprovam que muitos pacientes conseguem manter o nível de fé e na sua religião quando a possui buscando nela o apoio e alivio para o sofrimento acompanhado de todas estas mudanças.

Sabemos hoje que a religião assim como a espiritualidade está cada vez mais influenciando os tratamentos clínicos em geral e principalmente incluímos a área da Saúde Mental, pois podem ser vistas como uma maneira de encontrar um sentido para a vida, manter a esperança e o estado de calma e paz mesmo durante os procedimentos clínicos mais dolorosos, ou os momentos de profundo stress e angústias emocionais no set terapêutico, observamos isto nas doenças e dores crônicas, tratamentos oncológicos, depressão e ansiedade. Estes estudos acabaram determinando o desenvolvimento de novas técnicas de tratamento como a Terapia Focada na Compaixão, o Cultivo da Consciência e Regulação Emocional, Terapia Mindfulness entre outras. Além de cursos que motivam o profissional a conhecer mais sobre o tema.

A religião pode ser compreendida como uma expressão parcial da própria espiritualidade, praticada por diversas tradições orientais e ocidentais, seus rituais e cerimônias e dos textos canônicos de cada uma. Podemos dizer que a religião transmite uma herança cultural com seus dogmas e doutrinas, e que a espiritualidade pode ser conceituada como a essência do próprio indivíduo, que se manifesta na busca por um sentido mais claro do significado e proposito da sua vida.

Estudos e pesquisas apontam que os efeitos da espiritualidade e da religião possuem uma relação positiva em seus vários aspectos, incluindo o bem-estar físico, mental e emocional, importantes principalmente nas fases mais complexas do tratamento, das situações caóticas por ele provocado e todo o stress que acompanha a doença seja ela física mental ou emocional. Podemos considerar a espiritualidade e a religião como formas estratégicas de enfrentamento no tratamento de todas as doenças.

Coping – pode ser definido como um conjunto de estratégias cognitivas e comportamentais, na forma que os indivíduos usam para melhor lidar com as situações estressantes tanto da vida cotidiana como diante dos tratamentos pelos quais estejam passando. Cada religião oferece recursos dentro das suas crenças para lidar com os fatores agressivos como forma de ajudar o indivíduo em suas adversidades e o stress e a isto denominamos Coping ou enfrentamento religioso/espiritual.

Os profissionais tanto da área médica como os da Saúde Mental devem procurar estudar a visão funcional de cada tradição religiosa e a forma com que ensinam o enfrentamento diante de todos estes fatores. Existem funções chaves comuns a todas as religiões que já foram identificados, são eles: a busca do sentido, controle, conforto espiritual, a intimidade com o Divino, consigo mesmo e com os outros, e formas de transformar a vida. Com base nestas chaves, criaram-se métodos de enfrentamento religioso/espiritual que são identificáveis. Infelizmente este conhecimento ainda não muito pesquisado ou utilizado no Brasil, mas é um amplo tema para pesquisa, e sua relevância tem provocado mudanças importantes na forma do profissional que oferece o tratamento. No CCARE da Stanford University podemos encontrar inúmeras pesquisas que comprovam a eficácia do Coping.

O enfrentamento ou Coping tem tanto conotações positivas como negativas, desta mesma forma as estratégias religioso-espirituais também podem ser positivas ou negativas e o profissional que acompanha o paciente deve estar com capacidade para reconhecê-las. O Coping positivo possui medidas que exercem efeitos benéficos sobre o paciente, como por exemplo: a busca pela proteção divina, desenvolvimento de uma forma de conexão com a transcendência, busca pelo conforto espiritual com o dirigente da sua religião, estudo da literatura religiosa/espiritual entre outros. Já o Coping negativo, pode ser relacionado com as medidas de enfrentamento que causam consequências prejudiciais, como por exemplo: o constante questionamento na existência de Deus, a delegação da solução dos problemas ao Divino, usando a doença como uma forma de punição dada por Deus, conflitos com a sua comunidade,  dúvidas do poder justiça e amor de Deus, esperar passivamente pela intercessão divina ou por milagres, etc.

Tornou-se muito importante que os profissionais da Saúde, inclusive Psicólogos Psiquiatras e Psicoterapeutas compreendam como o seu paciente lida com o tema, de modo que todo este conjunto de medidas e recursos oferecidos possam fazer parte da terapia, respeitando a crença de cada indivíduo, o profissional também deve levar em questão a necessidade de não impor a sua própria crença, deve também considerar o líder religioso como um aliado, não patologizar estados místicos como clínicos, conhecer que certas vivência podem ser melhor aplicadas pelo líder religioso, deve manter um estado de humildade, paciência, espírito humanitário e e legitimidade científica. E aqui podemos falar em terapia holística.

Conhecer mesmo que sem a profundidade de um estudioso das religiões os métodos de enfrentamento de cada religião/espiritualidade podem servir como ferramentas de apoio muito significativas para lidar com o paciente independente do grau de gravidade de seu estado físico, mental ou emocional, e desta forma ajuda-lo a utilizar os recursos em seu próprio benefício.

Quem desejar mais informações sobre este tema tão relevante faço o convite para a Palestra sobre Coping Religioso/Espiritual  do dia 27 de Junho. Inscrições abertas pelo e-mail: saleela.devi@gmail.com onde serão passadas todas as informações a respeito.

Referência:
- Psychotherapy And Spirituality – Agneta Schreurs
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