domingo, 31 de março de 2013


Uma mesa-redonda com imaginária entre Anthony Robbins e Gautama, o Budha em ser o melhor que se pode ser.
Eu estava meditando sobre uma idéia interessante: o que aconteceria se o mestre histórico de Iluminação, Gautama, o Budha e o lendário treinador de desenvolvimento pessoal Tony Robbins tivesse uma conversa sobre o desenvolvimento humano? Quais seriam suas respostas para as seguintes questões: como podemos ser melhor que podemos ser, como podemos cultivar a motivação pura, e o que isso significa para viver melhor? 
Moderador: Obrigado por concordarem em participar deste diálogo. Vocês dois são conhecidos por representarem com excelência suas filosofias, não só em seus próprios campos, mas no desenvolvimento humano em si também. Vocês também são professores muito talentosos com muitos seguidores em todo o mundo. 
Suas capacidades de guiarem os outros pelo caminho árduo e desafiador do autodomínio e da Iluminação Espiritual são inigualáveis. É por isso que pensei que seria um presente para vocês estarem os dois juntos na mesma mesa – redonda para compartilharem seus pensamentos e suas idéias sobre a transformação humana no século 21.
Anthony Robbins: Muito obrigado. É bom estar com todos vocês.
Gautama, o Budha: Eu estou profundamente honrado. Que todos os seres sencientes tenham a  experiência da paz e da liberdade do sofrimento!
Moderador: Então me deixe começar com você Tony. Eu tenho três perguntas. O primeiro é sobre como nós podemos melhorar a nós mesmos. Todo mundo quer saber como eles podem ser o melhor que puderem ser. Que conselho você pode nos dar?
Robbins: O melhor conselho que posso dar é exatamente o que eu estava gritando aos quatro ventos nos últimos 30 anos. Em primeiro lugar, tome uma medida grandiosa! O que isto significa é: descubra as diferentes formas com que você deseja mudar a sua vida, e depois comece a trabalhar. Isso requer que você defina metas claras e coerentes, e o mais importante, para crie estratégias para atingir esses objetivos. Comece agora, hoje, neste minuto. Não espere mais um segundo. Não deixe padrões de hábitos antigos continuarem a entrar em seu caminho e afundá-lo. Comece com um plano claro de como você deseja alterar a sua vida física, emocional e intelectual. Pense sobre sua carreira, seus relacionamentos, seus hobbies, como você gostaria de ser diferente? A coisa mais importante é tomar medidas em massa para mudar a sua vida para a vida de seus sonhos. Hoje!
Moderador: Obrigado Tony. Isso é muito inspirador! Então Gautama, como você responder a pergunta de como podemos ser o melhor que podemos ser neste mundo em rápida mutação e acelerado em que estamos vivendo?
Budha: Queridos, essa é uma questão muito importante! Desde que atingi minha Iluminação sob a  árvore Bodhi muitos anos atrás, eu fui pregar às multidões um ensinamento poderoso de auto - libertação que pode nos despertar no nível mais profundo de nosso ser. Na minha filosofia, o "melhor" que podemos ser é nos tornarmos totalmente libertos, totalmente iluminado para se tornar nada mais nada menos do que um Budha vivo. E para ter sucesso em se tornar liberto, desta forma, deve colocar o Dharmma  (ensinamentos espirituais) em prática com todo o seu coração. Isso significa fazer o esforço nobre para desenvolver uma forte base moral no âmago de quem somos. A forte base com que devemos nos esforçar para superar uma vida de ignorância é aprender a transcender nossa mente condicionada através da prática de uma profunda meditação.
A Meditação profunda dará origem ao Samadhi - uma visão poderosa da verdade última da nossa própria natureza. A verdade é o vazio ou o vazio é o nada. Essa é a experiência direta da própria liberdade. Este tipo de descoberta vai nos libertar do que eu descobri ser um obstáculo para a felicidade: o desejo. Desejo para as coisas deste mundo. Se nos apegarmos apenas nesta liberdade de querer, será maior do que o maior.
Moderador: Uau! Obrigado por isso, Mestre Gautama. Minha cabeça está girando e eu me sinto tonto ora ouvir suas palavras de sabedoria atemporal e perene.
Tony, a minha segunda pergunta é sobre a bondade. Como podemos nos tornar pessoas melhores? Cuidando das outras pessoas? Menos egoístas e mais caridosos?
Robbins: Obrigado. Agora esta é uma grande questão! Você sabe que eu acredito apaixonadamente que as pessoas boas tendem a ser pessoas mais felizesE, para ser feliz, eu acredito que é essencial que estarmos progredindo nas áreas mais importantes de nossas vidas. Quer se trate de nossos relacionamentos íntimos, do nosso trabalho, das nossas finanças, nossa saúde física e bem-estar, e também na nossa espiritualidade. Para ser feliz é preciso saber, sem qualquer dúvida de que estamos nos desenvolver, estamos nos movendo, estamos crescendo. Mais uma vez, é o que nos dá a conexão mais profunda e satisfatória com a vida, muito mais do que obter o que nós pensamos e o que nós queremos, seja um novo relacionamento, um carro novo, ou uma promoção.
Além disso, pessoas que sabem que elas estão se desenvolvendo nos aspectos mais importantes de suas vidas, quase sempre elas possuem um profundo sentimento de gratidão. Elas sabem o que é preciso para crescer e que isto não é um dado adquirido. E, finalmente, a gratidão nos inspira a ajudar os outros, para servir os outros, da mesma forma que os outros nos ajudaram. Então eu acredito que pessoas "boas" são pessoas felizes e as pessoas felizes são pessoas gratas.
Moderador: Muito obrigado Tony. Você me ajudou a ver o que eu preciso fazer para ser mais sério e focado em meu próprio desenvolvimento. Em vez de simplesmente viver a vida, eu preciso sentar no banco do motorista e colocar o meu pé no acelerador!
Mestre Gautama, como você responderia à pergunta de como podemos nos tornar pessoas melhores, mais carinhosas, amorosas, em fim pessoas “boas”?
Budha: Amigos, o que vocês chamam de "bondade" já é a sua verdadeira natureza! Amor, bondade, compaixão, generosidade é o fluxo natural e espontâneo do coração e da mente de um ser que foi liberado da ignorância e do egoísmo. O que é a ignorância? A ignorância é a crença de que você está separado! Para se tornar uma pessoa "boa", uma pessoa amável, uma pessoa amorosa, você precisa ver através da ilusão de uma existência separada. E, para fazer isso, você precisa meditar profundamente sobre as duas verdades fundamentais da realidade. A primeira verdade é o profundo reconhecimento da Natureza do Vazio de todos os fenômenos da existência.
A segunda verdade é a Natureza Interconectada de todas as coisas visíveis e invisíveis, conhecidas e desconhecidas. Quando você medita com tal intensidade sua mente se torna translúcida, você vai ver diretamente e por si mesmo o que estou apontando: a natureza última da realidade é de uma luminosidade vazia, de um mistério incompreensível que silencia a mente e abre o coração. "Bondade" é o fluxo natural daquele que realizou esta verdade.
Moderador: Mestre Gautama, muito obrigado por isso, eu sinto que minha mente está se tornando tranqüila. Mas antes dela se desligar por completo, eu preciso fazer a minha pergunta final para ambos.
Tony, agora que você já esclareceu o que significa melhorar a nós mesmos e também como podemos nos tornar uma pessoa boa, eu tenho mais uma consulta. O que significa para cada um de nós viver no limite de nosso potencial?
Robbins: Bem, eu acho que de muitas maneiras eu já respondi a esta pergunta. Primeiro de tudo, estar em nossa vantagem significa que estamos evoluindo nas áreas mais importantes de nossas vidas. E, segundo, para viver a nossa vantagem, para mim, tenho que dizer que parei de viver de forma egoísta. Para colocar de forma mais simples, se nós realmente estamos em nosso limite, estamos ajudando a mudar o mundo.
Moderador: Obrigado Tony. Gautama?
Buda: Concordo plenamente com o grande Senhor Robbins! Eu diria que para estar em vantagem e viver com vantagem: significa que, ou somos aspirantes a Budhas e Bodhisattvas ou estamos totalmente realizados como Budhas e Bodhisattvas. Lembrem-se, estes seres encarnam para o bem dos outros. Eles não vivem mais neste mundo apenas para seu próprio benefício. Esses seres iluminados estão aqui apenas para trazer a luz da consciência superior a este mundo para que mais e mais pessoas despertem...
Moderador: Obrigado Tony! Obrigado Gautama! Excelente!  Você deu a mim mesmo e todos nós muito em que pensar e muito para viver.
por ANDREW COHEN – 17/02/2013

sábado, 30 de março de 2013




DE TI AO INFINITO
Ken Wilber

O que vou fazer adiante é simplesmente descrever a Identidade Não Dual agora mesmo, do modo como Ela É imediatamente vista. O que se segue é fluxo de consciência, por isso perdoe-me qualquer falha. Simplesmente descontraia a mente e leia o que se segue com leveza (se uma frase faz imediatamente sentido, muito que bem, se não, continua lendo relaxadamente): “O Que TU tens andado a procurar é literalmente e exatamente O Que lê esta página agora mesmo. Esta Identidade não pode ser encontrada, pois nunca se perdeu, pois TU sempre tens visto que TU tens sido TU”.

Esta Identidade é uma condição permanente de Tudo O Que surge, É o Espaço no qual tudo surge, nada tem fora de Si e por isso É Paz Absoluta, e irradia sua própria beleza em todas as direções. O João surge no espaço desta Identidade. O João surge neste espaço infinito, nesta receptividade pura. O João é um objeto, assim tal qual uma árvore ou uma nuvem que surge no espaço da Identidade que TU És. Agora não estou a falar ao João, estou a falar para O Que está ciente do João, Que É esta Identidade sempre presente. Esta Identidade está ciente do João surgindo agora mesmo. Esta Identidade é DEUS. DEUS está lendo esta página. O João não está lendo esta página, DEUS está lendo esta página. A Identidade está ciente do João e ciente desta página. TU não És O João. TU És O Que está ciente do João. O Que Está ciente do João É uma Identidade que por Si mesma não pode ser vista, mas unicamente sentida, sentida como uma certeza absoluta, uma inabalável Identidade, EU SOU este EU SOU eternamente, intemporalmente, indeterminadamente.

Só existe esta Identidade em todas as direções. Tudo surge espontaneamente no espaço desta Grande Perfeição Que É esta Identidade, que está lendo esta página agora mesmo. E tu, João, És essa Identidade. Tu sempre tens visto que TU És esta Identidade. Nunca houve um momento em que não soubeste que TU És. TU não consegues recordar um momento no qual TU não foste TU. A única coisa que sempre podes recordar é aquilo que esta Identidade fez. Só existe esta Identidade. Não a podes alcançar, pois É Ela que tenta o alcance, não a podes ver, pois É Ela que realiza a visão agora mesmo, isto significa que, Tudo simplesmente surge na Tua presença: “O mundo inteiro surge na Tua presença agora mesmo. TU És esta extensão na qual Tudo espontaneamente, sem esforço, surge”. TU És Este Primeiro. TU sempre tens Sido Este Primeiro. Só existe Este Primeiro. Não suponhas que O estás a encontrar. Não suponhas que tu tens se esquecido Dele. A única coisa que sempre tens conhecido a única coisa que te é dado recordar, a única coisa que na verdade estás sentindo agora mesmo É Este Primeiro: “A Identidade, a Presença, a qualidade de Tudo, tal como É, e tal como surge na Tua Presença – a simples sensação de Ser – que é Tudo O Que TU sempre sentes, permanentemente”.

Olhe as nuvens, elas estão surgindo na Tua Consciência, estão surgindo em TI. As nuvens estão fora do João, mas dentro da Tua Identidade. Olha para o teu corpo e para esta sala. O teu corpo está nesta sala, mas ambos o teu corpo e esta sala surgem na Tua Consciência. TU estás literalmente sustentando-os amorosamente na Tua Consciência. As montanhas estão aparecendo na Tua Consciência, estão surgindo em Ti e TU as sustentas amorosamente na Tua Consciência, segurando o mundo que desponta no teu abraço, qual terno e radiante amor. As montanhas estão surgindo fora do João, mas no interior da Tua Identidade. As nuvens, as montanhas, e o João estão todos simultaneamente, e sem esforço, surgindo Nesta Identidade: “O leitor desta página”.

Tudo o que está surgindo surge neste inabalável EU SOU, que não É uma coisa ou um objeto ou uma pessoa, mas a Receptividade ou Clareira na qual todas as coisas e todos os objetos e todas as pessoas estão a surgir. Esta Vacuidade, esta Receptividade, este Grandioso Espaço É a Tua Identidade, É O Que Tu sempre tens sido, É O Que Tu És antes de os teus pais terem nascido, é O Que Tu És antes de acontecer o Big-Bang. Antes de Abraão ser, EU SOU.

Não há um antes e um depois para este instante presente, que a Identidade É. Só existe este instante, agora, da Identidade que está lendo esta página neste preciso momento. Não há um passado e um futuro neste interminável instante. Todos os antes e todos os depois surgem Nesta Consciência. Só existe Esta Sempre-Presente, Nunca-Iniciada, Nunca-Terminada, Não-Nascida, Imperecível Beleza Radiante que está ciente desta página, que está ciente deste universo, e que encontram todos estes no Espaço que em Si Mesma É, e por isto, todas as coisas surgem na Paz inabalável que as sustenta facilmente com o Teu amparo. O João existe no universo; o universo existe na Tua Identidade.

Por isso, Sê esta Sempre-Presente Identidade que está lendo esta página. Não o estou a dizer ao João, estou a falar para Ti, deixa o João aparecer e desaparecer como qualquer objeto. Permite que o João apareça, fique por um pouco, e parta. O que tem isto a ver com a Tua Identidade? Todos os objetos aparecem, permanecem, e partem no Vasto Espaço e Vacuidade que está ciente deste momento. Ainda assim, este momento não tem fim, TU na verdade nunca sentiste que o presente tenha chegado a um termo, pois isso nunca acontece: “O presente é a única coisa que é real. Este instante imediato, presente, esta simples sensação de Ser, exatamente a mesma Sensação-Consciência na qual esta página flutua e na qual o João flutua, e na qual as nuvens flutuam”.

Quando TU sentes este instante presente, nada encontras fora dele – não é possível vislumbrar o exterior deste instante intemporal, pois nada existe além dele. Este instante é tudo quanto TU conheces, e este instante imediato presente é simplesmente outro nome para a imensurável Identidade na qual surge o Cosmos inteiro, uma radiante, rejubilante, extasiante dilatação de felicidade e um desejo de partilhar esta alegria infinita com outra pessoa.

Porque esta página e as montanhas e as nuvens todas surgem na Tua Consciência, nada existe fora da Tua Identidade. Que não existe literalmente nada exterior à Tua Identidade significa que não existe literalmente nada que a possa ameaçar. Uma vez que conheces esta Identidade, TU conheces a Paz. Porque TU já És, diretamente, imediatamente e intimamente Um idêntico a Aquele que está lendo esta página agora mesmo, TU conheces DEUS agora mesmo, diretamente, imediatamente, inequivocamente e inegavelmente. E porque TU conheces DEUS agora mesmo, como a Própria Identidade lendo esta página, TU sabes que finalmente, verdadeiramente, profundamente estais em casa, um lar que sempre diretamente tens conhecido e sempre tens fingido não conhecer.

Por isto, deixa de fingir. Reconhece que TU És DEUS. Reconhece que TU És Perfeição. Reconhece que TU És a Própria Verdade que os sábios têm procurado há séculos. Reconhece que TU És Paz acima da inteligência. Reconhece que estás tão arrebatadamente feliz que tiveste de manifestar este mundo inteiro só para gerar o testemunho da beleza radiante que não podias conter só em Ti e para Ti mesmo. Reconheces que a Testemunha desta página, a Identidade deste e todos os mundos, é o Próprio e Único Verdadeiro Espírito que olha através de todos os olhos e ouve através de todos os ouvidos e se estende em amor e compaixão para abraçar os próprios seres que Ele mesmo criou numa extasiada dança que é o segredo de todos os segredos. E reconhece que estás Só, que És literalmente o Único em todo o universo. Não há outros para este Primeiro. Há efetivamente outros para o João, mas tanto o João como os outros surgem na Consciência que está lendo esta página, e esta Consciência, esta Identidade, não tem outro, pois todos os outros surgem nesta Identidade. Primeiro sem segundo É O Que está lendo esta página.
Portanto, Sejas Tu esse Primeiro. E dá também um abraço meu ao João.

Ken

P.S.: Compreendes, completamente, plenamente, indubitavelmente, que aquele que está lendo esta página é aquele que a escreveu, sim? O João, e o Ken, e esta página, todos surgem na Testemunha desta página, percebeste? Difícil não é encontrar a Identidade, o que é impossível é fugir dela. Por isso deixa toda essa excitação do encontrar e do perder, e simplesmente seja Aquele no qual todos os mundos estão agora a surgir. Vá, põe-te então na rua e vê o mundo maravilhoso erguendo-se na tua própria sensação-consciência, surgindo no teu próprio Ser, e depois, como de costume, vai beber uma cerveja, ou qualquer coisa assim”…
Koan: Aponta o dedo para quem TU és!

quarta-feira, 27 de março de 2013

Confiar na vida

Confiar na Vida

Perguntaram ao Osho

O que me atrapalha a dizer sim à vida e a me entregar totalmente? E é sempre certo dizer sim?

É difícil dizer sim à vida, pois lhe foi ensinado dizer não, e o conhecimento é muito antigo. E não é apenas esse condicionamento que está presente, há também um mecanismo interno que não lhe permite dizer sim.

Quando uma criança nasce ela é um ser que diz sim. Muito lentamente, à medida que ela começa a se sentir um individuo, o não surge. Quando a criança começa a dizer não, pode estar certo que esta é a época em que o ego nasce. Ele não pode existir sem dizer não, portanto, toda criança deve dizê-lo. Esse é um mecanismo interno para se tornar um indivíduo. Se a criança prosseguir dizendo sim a tudo, ela jamais se tornará um indivíduo, ela não terá qualquer definição de seu ser. Como ela será capaz de definir? O sim não lhe dá definição, e o não dá. Quando você diz não, você sabe que é o “eu” dizendo não. Quando você diz sim, não há “eu” nisso.

A vida e você se tornam unos quando você diz sim. Quando você diz não, você demarca uma linha, uma defesa. Esse é o significado da historia bíblica de Adão desobedecendo a Deus, dizendo não. Essa é uma necessidade, do contrário Adão jamais se separaria de Deus, jamais teria qualquer individualidade; ele teria permanecido vago, uma espécie de nuvem, nebuloso. Ele precisava dizer não, desobedecer, rebelar-se. E lembre-se isso não é algo que aconteceu no passado e somente uma vez; isso acontece em cada novo Adão, com cada novo filho do homem. Toda criança vive no jardim do Éden por alguns meses ou anos, e então, muito lentamente, ela precisa negar, rebelar, desobedecer. O pai diz: “Não faça isso!”, e ela tem de fazê-lo simplesmente para dizer: “Sou eu mesma. Você não pode continuar a me mandar desse modo. Não sou uma escrava, tenho minhas próprias preferências, gostos e desgostos.”

Algumas vezes a criança até faz algo que não gosta muito, mas ela precisa fazê-lo, pois o pai está dizendo para não o fazer. Ela precisa ir contra o pai, essa é a única maneira de ter uma existência separada. Ela precisa ir contra a mãe e o professor. Para cada criança há uma época de dizer não, e é bom que seja assim. Não sou contra isso, de outro modo não haveria mais indivíduos. Mas então você se acostuma a dizer não.

Há uma época, uma estação para não dizer não, e há uma época para aprender a abandonar os nãos desnecessários. Do contrário, você jamais atingirá a unidade com o Divino. Perceba o ponto: o não o auxilia a se tornar separado de seu pai, de sua mãe, família e sociedade. Ele é bom – enquanto dura, ele é bom – mas então um dia você precisa aprender a dizer sim a Deus, à existência. Senão você permanecerá sempre separado, e a separação cria infelicidade, cria um tipo de luta na vida, uma briga. A vida se torna uma guerra, e ela não deveria ser uma guerra, mas uma alegria relaxada.

The Wisdom of the Sands
OSHO

Purificação da Mente



Purificação da Mente
por
Bhikkhu Bodhi

Uma máxima antiga, encontrada no Dharmmapada resume a prática dos ensinamentos do Buda em três orientações simples para o treinamento: a abster-se de todo o mal, cultivar o bem, e para purificar a mente. Esses três princípios formam uma seqüência graduada de passos progredindo a partir do exterior e preparatório para o interior e essencial. Cada passo leva naturalmente para o que se segue, e a culminação dos três na purificação da mente torna claro que o coração da prática budista pode ser encontrada aqui.

Purificação da mente como entendido no ensinamento do Buda é o esforço contínuo para purificar a mente das impurezas, as escuras e insalubres forças mentais que correm por baixo do fluxo de superfície da consciência, viciando o nosso pensamento, valores, atitudes e ações. O chefe entre as corrupções são os três que o Buda chamou de as "raízes do mal" - a ganância, o ódio, e ilusão - a partir do qual emergem suas ramificações numerosas e variantes: raiva e crueldade, avareza e inveja vaidade e arrogância, hipocrisia e vaidade, a multiplicidade de visões errôneas.

Atitudes contemporâneas não vêem com bons olhos tais noções como impureza e pureza, e no primeiro encontro que pode nos parecer jogado a um moralismo antiquado, válida, talvez, em uma época em que puritanismo e tabu eram dominantes, mas não ter reclamações sobre nós portadores de emancipados modernidade. Evidentemente, nem todos chafurdam na lama do materialismo grosseiro e muitos de nós procuramos nossos esclarecimentos e agudos espirituais, mas queremos que eles nos nossos próprios termos, e como herdeiros da nova liberdade acreditaram que são para ser ganhos através de uma desenfreada busca de experiência sem qualquer necessidade especial de introspecção, mudança pessoal, ou autocontrole.

No entanto, nos ensinamentos do Buda é o critério de iluminação genuína reside precisamente na pureza da mente. A finalidade de toda percepção e compreensão esclarecida é libertar a mente das impurezas, e Nibbana em si, o objetivo do ensino, é definido claramente como a liberdade de ganância, ódio e da ilusão. A partir da perspectiva da contaminação Dharmma e pureza não são meros postulados de um moralismo rígido e autoritário, mas fatos reais e, sólida essencial para a correta compreensão da situação humana no mundo.

Como fatos da experiência vivida, impureza e pureza representar uma distinção vital ter uma importância crucial para aqueles que buscam a libertação do sofrimento. Eles representam os dois pontos entre os quais o caminho para a libertação se desenrola - o ponto problemático e seu ex-partida, a sua resolução último e final. As impurezas, o Buda declara, estão no fundo de todo sofrimento humano. Queimando dentro de luxúria e desejo, como raiva e ressentimento, eles colocam a perder corações, vidas, esperanças e civilizações, e conduzir-nos cegos e sedentos através do ciclo de nascimento e morte. O Buda descreve as impurezas como laços, grilhões, obstáculos, e nós, daí o caminho para lançamento e liberação, para desatar os nós, é ao mesmo tempo uma disciplina que visa a purificação interior.

O trabalho de purificação deve ser feita no mesmo lugar onde as contaminações surgem na própria mente, e o principal método o Dharmma oferece para purificar a mente é a meditação. Meditação, no treinamento budista, não é nem uma busca de auto-efusivos êxtases nem uma técnica de casa aplicada psicoterapia, mas um método cuidadosamente planejado de desenvolvimento mental - teoricamente precisa e praticamente eficiente - para alcançar a pureza interior e liberdade espiritual. As principais ferramentas de meditação budista são os principais fatores mentais saudáveis ​​de energia, atenção plena, concentração e entendimento. Mas na prática sistemática da meditação, estes são fortalecidos e se unissem em um programa de auto-purificação que visa extirpar a raiz impurezas e ramo de modo que nem mesmo as mais sutis agitações prejudiciais permanecem.

Desde que todos os estados impuros da consciência nascem da ignorância, a corrupção mais profundamente enraizado, a purificação final e última da mente deve ser realizado através da instrumentalidade da sabedoria, do conhecimento e visão das coisas como elas realmente são. Sabedoria, no entanto, não surge por acaso ou aleatórias boas intenções, mas apenas em uma mente purificada. Assim, a fim de sabedoria para vir e realizar a purificação final através da erradicação das impurezas, primeiro tem que criar um espaço para que através do desenvolvimento de uma purificação provisória da mente - uma purificação que, ainda que temporária e vulnerável, ainda é indispensável como bases para o surgimento de todo o insight libertador.

A realização desta purificação preparatória da mente começa com o desafio de auto-entendimento. Para eliminar as impurezas devemos primeiro aprender a conhecê-los, para detectá-los no trabalho infiltrar e dominar nossos pensamentos e vidas. Por incontáveis ​​eras agimos no impulso da ganância, ódio e ilusão, e, assim, o trabalho de auto-purificação não pode ser executado às pressas, em obediência à nossa demanda por resultados rápidos. A tarefa requer paciência, cuidado e persistência - e de cristal do Buda instruções claras. Para cada impureza, o Buda em sua compaixão nos deu o antídoto, o método para sair dela e vencê-lo. Ao aprender estes princípios e aplicá-los corretamente, podemos gradualmente desgastar as manchas mais difíceis do interior e chegar ao fim do sofrimento, a "libertação imaculada da mente."

domingo, 24 de março de 2013


Os princípios do Zazen do Mestre Dogen
Texto extraído de “O Anel do Caminho”
tradução de Taise Deshimaru

Deveis abandonar a prática fundada no conhecimento intelectual, correndo atrás das palavras e atendo-vos à letra. Deveis aprender a meia – volta que dirige a vossa luz para o interior, para iluminar-vos a verdadeira natureza. O corpo e o espírito se  apagarão por si mesmos e o vosso verdadeiro rosto aparecerá. Se quiserdes atingir a ipseidade, devereis praticá-la sem tardança.
Para o Zazen, convém um aposento silencioso. Comei e bebei com sobriedade. Não penseis: isso está bem, isso está mal. Não tomeis partido, nem a favor nem contra. Suspendei todos os movimentos do espírito consciente. Não julgueis pensamentos e perspectivas. Não alimenteis desejo algum de tornar – vos um Budha. Zazen não tem absolutamente nada que ver com a posição sentada ou com a posição deitada.
No lugar em que tendes o costume de sentar – vos, estendei uma esteira grossa e colocai uma almofada em cima. Sentai – vos na posição de lótus (Padmasana) ou de meio – lótus. Na posição de lótus, colocai primeiro o pé direito sobre a coxa esquerda, depois o pé esquerdo sobre a coxa direita. Na posição de meio – lótus, contentai – vos em colocar o pé esquerdo contra a coxa direita.
Não vos esqueçais de desapertar as roupas e o cinto, arrumai – vos convenientemente. Em seguida, colocai a mão direita sobre a perna esquerda e a mão esquerda, virada para o alto, sobre a direita; as extremidades dos polegares se tocam.
Sentai – vos bem aprumado, na atitude corporal correta, nem inclinado para a esquerda, nem inclinado para a direita, nem para frente, nem para trás. Certificai – vos de que as orelhas estão no mesmo plano dos ombros e que o nariz se acha na mesma linha vertical do umbigo.
Empurrai a língua para frente, contra o platô; a boca está fechada, os dentes se tocam. Os olhos devem permanecer sempre abertos, e deveis respirar suavemente pelo nariz. Quando tiverdes assumido a postura correta, respirai profundamente uma vez, inspirai e expirai. Inclinai o corpo para a direita e para a esquerda, e imobilizai – vos numa posição sentada estável.
O Zen está além de todo e qualquer dualismo; por sua simplicidade, dá acesso ao estado absoluto de sabedoria; e é aqui que a significação do Zazen assume toda a força: Shikantaza, apenas sentar-se, sentar-se e mais nada.
O Zen é a filosofia da gratuidade, do não – lucro; cada qual trabalha, na vida, para uma finalidade, por uma idéia, com um objetivo; cada qual quer dar e receber, mas só se atinge a vida espiritual mais alta do homem quando não há busca de lucro nem medo de perda.
Conservem as mãos abertas, toda a areia do deserto passará por entre elas; fechai – as e não conseguireis senão alguns grãos. A menor noção de guardar, de permanecer na consciência, é um obstáculo. A harmonia com o sistema cósmico é o abandono de tudo. Somos unidade e recebemos então a energia do cosmo.
Tudo indica que a educação baseada unicamente no conhecimento intelectual, nas religiões e morais tradicionais já não são capazes de fornecer soluções. Angustiados, desorientados, desequilibrados, os homens fogem, buscando os prazeres momentâneos e a facilidade, e assim se apartam da essência espiritual e do verdadeiro sentido da humanidade. As contradições e insatisfações são numerosas, rompeu – se o equilíbrio natural dos humanos porque eles já não sabem viver na condição normal do corpo e do espírito.
Estudar o Caminho do Budha é estudar – se a si – mesmo. Estudar –se a si – mesmo é esquecer –se de si – mesmo. Esquecer – se de si – mesmo é estar identificado com todas as existências do cosmos.
Estar identificado com todas as existências do cosmo é despojar – se do corpo e da mente. Despojar – se do corpo e da mente é despojar - se do seu eu.
Qual é a essência de todas as religiões, de todas as filosofias? Compreender – se a si – mesmo. Não uma compreensão lograda unicamente através da imaginação, da parte frontal, intelectual do cérebro, mas uma compreensão lograda através do corpo. Vivemos graças à energia do cosmos. Durante o Zazen, nossa consciência e nosso corpo se harmonizam com o sistema cósmico, graças à respiração, aos cinco sentidos e à consciência, que se acalmam, perdem as ansiedades, os temores, natural, automática, inconscientemente. É a verdadeira religião.
Essa postura exata influi na consciência, nas sensações, nos pensamentos. Zazen é a volta às condições normais, à saúde do corpo. Será difícil associar ao Zazen um corpo em mau estado. Zazen é o barômetro da saúde e da mente.
As doenças aparecem sempre a partir das deformações do corpo e da mente. Graças à postura do Zazen localizamos nossas deformações e nossos pontos fracos. Zazen significa olhar para nós mesmos, compreender o nosso ego, o nosso karma e os maus hábitos do corpo e da mente. Quando praticardes o Zazen mantém de uma psotura justa. Do inconsciente surgem desejos e pensamentos. Assim podeis observar – vos a vós mesmos. Se sentirdes pontos dolorosos pelo corpo ou mesmo um desequilíbrio entre o lado direito e o lado esquerdo, essa deformação pode vir a ser a causa de uma futura doença.
Quase todas as religiões procuram o controle por meio do espiritual. Mas se quiserdes controlar o espírito pelo espírito complicar-nos-emos. Querer controlar o espírito pela vontade é como querer apagar o fogo com o fogo.
A educação Zen não é cientifica. A educação Zen está além da ciência, além da filosofia. O pensamento Zen pratica-se com o corpo. E inclui as contradições. No Zen, não pensamos no problema da existência ou da não – existência de uma substancia. Propomos os problemas seguintes: Que fazer? |Como existir aqui e agora?
Dizia Mestre Kodo Sawaki que conduzir a nossa vida é como andar de bicicleta. Uma boa prática faz – se necessária. Se o corpo e o cérebro estiverem rígidos, não poderemos conduzir; não poderemos vencer a dificuldade. É preciso pedalar sem parar. Se não pedalarmos, não avançaremos, se executarmos uma manobra errada, cairemos.
Precisamos utilizar o cérebro co mo utilizamos a bicicleta. Agora, agir de tal maneira, cada momento é diferente. O aqui e o agora diferem a cada instante, como o tempo que passa. Por isso mesmo, o cérebro não deve permanecer unilateral. Se só decidirmos segundo nossas próprias categorias, o cérebro não evoluirá e não poderemos criar sabedoria.
Da pergunta: Como somos? Devemos passar à pergunta: Como devemos ser em nossa vida real? Nesse momento, a alta verdade da prática da fé e da religião pode assumir numerosas dimensões.
É de suma importância entrar na prática e na experiência. No Zen, devemos rejeitar até os juízos sobre o bem e o mal. O bem e o mal não são mais que o verso e o reverso da mesma medalha. Se nos apegarmos a um juízo, ele se fixará e assumirá uma substancia própria. Por isso mesmo, no Zen, não fazemos senão negar, sem parar, todas as coisas.
O Caminho do Meio, é o fato de se controlar, de equilibrar – se.
Nas religiões modernas, só nos concentramos nos ensinamentos, nos Sutras, no estudo, na teologia. Esquecemos a prática, assim como a fé. Daí, que o ensinamento sem a prática e sem a fé não pode dar alugar ao despertar. No interior do espírito das pessoas, as vagas e o vento estão sempre em movimento.
O ser humano cria suas próprias ilusões. A perseguição às sombras da consciência engendra a ilusão ou o erro. A maioria das pessoas fala segundo as próprias ilusões estúpidas. Seus discursos são errôneos, pois decidem acerca do me e do mal através das ilusões.
Devem – se as ilusões à mente instável que se move e erra em função do meio. O Satori é a condição estável, normal e original da mente. Nossa silhueta muda a cada instante como a chama que arde. Muda a cada instante o conteúdo das concepções ou das categorias. Não há nada fixo. No mundo visível, nada é idêntico, cada objeto é diferente. Tudo existe numa relação de interdependência, sem a essência, sem a substância.
Durante o Zazen, o cérebro equivale a uma janela através da qual sopra forte corrente de ar.
Sem nódoa.
Na água da mente.
Permanece a claridade da Lua.
Até as vagas ali se quebram,
E se transformam em luz pura.

Durante o Zazen, o cérebro e a consciência se purificam. Exatamente como a água suja que deixamos decantar num copo. A sujeira, progressivamente, se deposita no fundo e a água se torna pura.

As pessoas ignoram,
A jóia preciosa.
E, no entanto, cada qual a possui,
Profundamente enterrada.
Na consciência Alaya, o inconsciente.

Quando a consciência Alaya emerge e se manifesta, aparece o espelho da sabedoria. O Satori do Zen Soto é, pois, o redescobrimento do estado original esquecido, além de todas as observações de que é suscetível a consciência saída do cérebro frontal; deixa de ser, portanto, subjetivo, para ser totalmente objetivo.
O Zazen, que é a essência do ensino do Budha e dos Patriarcas que lhe sucederam, permite a ultrapassagem de todas as contradições; é um salto para além das categorias, é Hishiryo, o pensar não – pensado, o pensar oriundo do não – pensamento. Todos os fenômenos que chegam aqui e agora não se distinguem do Satori, constituem o verdadeiro Satori, a verdadeira natureza de Budha. Na natureza de Budha não existe forma nem não – forma.
Zazen tem um gosto muito simples, leve, quase neutro.
Se dermos gosto ao Zazen, fá – lo – emos vulgar.
É semelhante ao algo céu.
E ao oceano sem limites.

O Satori é unificação, unidade, não-separação. O próprio Zazen é Satori. A ação é a certificação do Satori. O Satori não é, pois, um acontecimento, mas um estado permanente que subsiste até a morte. Entretanto, nem por isso devemos esperar entrar no caixão para obtê-lo, será tarde demais. Para cada pessoa, o Satori é, a um tempo, diferente e idêntico, como a Lua que se reflete tanto numa gota de orvalho ou numa gota de xixi de cachorro quanto no oceano. Cumpre rejeitar tudo, corpo e mente, para que o Zazen nos acompanhe; seguimo-lo sem fazer uso da força, da consciência. Inconsciente, natural, automaticamente, nós nos separamos das ilusões e obtemos o Satori. A postura do Zazen é o Satori.

O Zazen deve arrastar o pensamento humano na direção do Budha, da ordem cósmica. A postura do Zazen é semelhante à postura alongada do leão, ao rugido do dragão. É digna do máximo respeito. Quer estejais sentado, de pé ou deitado, deveis ser parecido com o rei dos leões, que permanece totalmente livre e forte, bravo e sem medo; se outras pessoas vierem ver a vossa postura, esta deve ser tal que elas não possam aproximar-se, tamanha a dignidade que dela emana.

Rejeitai, num só golpe, todo pensamento e todo saber e, se fizerdes Shikantaza e sentardes em Zazen abandonando tudo, pouco a pouco vos familiarizareis com o Satori. Atingireis então o Caminho utilizando o corpo de modo apropriado, especialmente se vos sentardes.

Os homens que desejam o Satori oriundo de um conhecimento limitado e seletivo duvidam da suprema sabedoria do Budha, nascida da consciência cósmica ilimitada. Assim, se não acreditardes na sabedoria suprema, sereis prisioneiro do vosso eu consciente e experimentareis sofrimentos. O coração deve deixar-se arrebatar pela fé, confiar - se natural e inconscientemente à Mente Cósmica em vez de agarrar-se ao eu objetivo. A mente contém todo o cosmo.

No mundo da verdade, eu e os outros não somos separados. Lá não existe nenhum vestígio de dualismo: fenômeno e essência mutuamente se interpenetram e se encaixam com perfeição. Quando a mente não se detém em nada, a verdadeira mente aparece.

Na maioria das meditações, seja mesmo em certas formas de Zen, os adeptos, mestres e discípulos sempre se esforçam por destruir as ilusões e permanecer no não – pensamento, por destruir a mente errônea e permanecer na não – mente, por matar a atividade viva em si – mesmos e estagnarem – se num estado de não – vivo, de não – atividade. Do mesmo jeito que sempre quiseram matar o aspecto e brincar com o não – aspecto. Razão pela qual esse gênero de meditação sempre enfraqueceu a maioria das escolas e seus praticantes.

O verdadeiro Zazen é como o espelho que reflete todas as formas ou todos os fenômenos, e em que a vossa mente se torna completamente clara. À medida que a vossa mente soçobra, kontin vos precipita nos abismos do sono e, quando a vossa mente flutuaa, sanran vos afunda nos abismos da confusão. Por isso mesmo, durante o Zazen, acautelai-vos dos dois obstáculos, Kontin e Sanran, modorra e exaltação. Mas se viveis no centro do palácio luminoso da tranqüilidade cósmica, sanran se acalma por si – mesmo mercê dessa tranqüilidade perfeita. E a vossa mente se acalma completamente, até em presença de sanran.

Da mesma forma kontin se aquieta pela observação da vossa própria luz, e podeis tornar-vos totalmente essa luz, ,esmo com a existência de kontin. Por conseguinte, deveis observar kontin durante o Zazen e tornar-vos luminosos com kontin; e deveis deter sanran durante o Zazen acalmar-vos com sanran. Como o javali que descobriu uma mina de ouro ou como o vento que espalha ao longe o perfume das flores olorosas, inconscientemente. Na verdadeira mente espiritual não há ilusão.

Se pudermos usufruir da verdadeira e perfeita liberdade da mente, até a nuvem branca e a montanha azul se transformam em sombra em nosso pensamento único, e a bruma sobre a floresta de pinheiros ou a neve que recobre a floresta de bambu também se transformam em sombra em nosso pensamento único. Poderemos, então, pescar a Lua e lavrar a nuvem.

Nesse momento, como se realiza o mérito infinitamente grande do Zazen, podemos fazer entrar o cosmo numa semente de papoula, ou o oceano num poro de pele, e mudar a terra do inferno em terra do paraíso, inconsciente, natural, automaticamente.

Por favor, meus caros discípulos considerem que a nossa vida é tão vã e efêmera quanto a gota de orvalho sobre a relva de manhã, e que nosso destino é tão impermanente quanto o sonho ou a ilusão, a bolha d’água ou a sombra.

Quando uma gota de água cai no oceano,
Quando um grão de pó cai na terra,
A gota de água já não é uma gota d’água, torna-se oceano,
E o grão de poeira já não é um grão de poeira, torna-se a terra inteira.

O verdadeiro Zen não é correr para alcançar o Caminho, porém ser alcançado pelo Caminho. O verdadeiro Zen é o despertar – metamorfose; não é um Satori pessoal. O Sutra do Nirvana repete as palavras que Budha pronunciou quando obteve o Satori debaixo da árvore Bodhi. “Eu e todos os seres vivos realizamos juntos o Caminho”.

Não pratiques o Dharmma do Budha, não pratiqueis o Zazen em vosso benefício, com finalidade utilitária, pelas honras, pelos méritos, para lograr favores, milagres, mas apenas pelo Dharmma do Budha. Shikantaza é a mais alta, a maior, a mais pura dimensão do corpo e do espírito do homem.

O Zen de Dozgen não é a ambição de vir a ser mais do que humano, um ser especial, Budha ou Deus. Tampouco é a esperança de ter a visão da vacuidade, ou de fazer milagres. É voltar à condição normal da mente humana. A prática do Zazen traz a paz interior. Além disso, o vosso Zazen influencia toda a humanidade, todo o Cosmo. Zazen é um jogo, o maior de todos. Só os que o compreenderam continuam a praticar.