sábado, 5 de setembro de 2015

Sindrome de Burnout no Direito


Síndrome de Burnout no Direito

Síndrome de Burnout – é um distúrbio psíquico que leva a quadros depressivos precedidos de esgotamento físico e mental intenso conforme definição de Herbert J. Freudenberger como: “um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional”.

Não importa a profissão, atualmente o stress faz parte da vida cotidiana em um mundo cada vez mais competitivo. Tensões emocionais e stress crônico devido a condições de trabalho extenuantes levam aos sintomas da Síndrome de Burnout. Embora encontremos nos profissionais das mais diferentes áreas de trabalho, um aumento na incidência naquelas que lidam direto e intensamente com outras pessoas e influenciam suas vidas. Duas profissões onde encontramos maior número de profissionais com sintomas são os da área da Saúde e a do Direito.

Sintomas – Muitos dos sintomas no início se confundem com a depressão. Mas a Burnout trás consigo o esgotamento físico e emocional que se refletem nos comportamentos como maior agressividade, isolamento, mudanças de humor, irritabilidade, ideação suicida, dificuldade de concentração, falha na memória, ansiedade, tristeza, pessimismo, baixa autoestima, sentimentos negativos, emoções destrutivas, paranoia entre outros. Em termos físicos enxaquecas, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insônia, distúrbios gastrointestinais, respiratórios e cardiovasculares e nas mulheres alterações no ciclo menstrual. Estes sintomas impactam profundamente na vida profissional e pessoal.

O que Burnout não é? - Não é apenas stress, embora o stress possa levar ao Burnout, também não é tédio muito embora quem sofre com o Burnout sinta-se desanimado com a vida profissional e o rumo que ela está tomando; além do fato que a produtividade cai profundamente pois o profissional não tem mais prazer no trabalho e nem se sente gratificado ou criativo. Portanto a Síndrome não pode ser ignorada nem deixada para depois. Não é uma desgraça, mas um alerta!

No Direito – Martin EP Seligman e seus colegas Paul R Verkuil e Terry H Kang publicaram um artigo – Porque os advogados são infelizes – na Deakin Law Review, e neste artigo apontam para o número crescente de advogados que se sentem infelizes com a sua profissão nos Estados Unidos. Isto acontece devido à natureza competitiva do sistema jurídico, pressão por resultados, autonomia limitada, na natureza pessimista da análise jurídica que se centra na identificação e antecipação de problemas. Muitos profissionais da área Jurídica sentem a falta de controle sobre as suas carreiras, longas horas de trabalho diário, falta de comunicação ou feedback eficaz, falta de clientes ou clientes difíceis ou clientes que relatam problemas que não são da área jurídica utilizando o advogado como psicólogo ou outro profissional, histórias carregadas de sofrimento e angustias que não podem ser solucionadas no escritório do advogado mas que estressam o profissional. Além das demandas do ambiente profissional que podem tornar-se elevadas demais influenciando também na vida pessoal e impedindo horas de lazer e relaxamento.

As 12 etapas da Síndrome de Burnout segundo Freudenberger – Segundo o pesquisador a progressão geral da Síndrome passa por 12 etapas:

1.      Compulsão para provar a si mesmo;
2.      Trabalho duro;
3.      Negligencia as necessidades do outro;
4.      Deslocamento de conflitos;
5.      Necessidade de rever valores;
6.      Negação dos problemas emergentes;
7.      Afastamentos da vida social;
8.      Mudanças comportamentais e de humor;
9.      Despersonalização;
10.  Sentimento de vazio interior;
11.  Depressão;
12.  Síndrome de Burnout

Quando o jovem advogado se forma e passa no exame da Ordem dando início ao desenvolvimento de sua carreira, ele automaticamente desenvolve uma necessidade de provar sua competência, ofuscar seus pares e se destacar por suas habilidades.  Não se dá conta que colocou os pés no caminho que leva ao Burnout.

Para acentuar os primeiros sintomas, são colocadas sobre ele as mais altas expectativas pessoais, a necessidade de provar que é insubstituível e que consegue lidar com todas as pressões - sozinho. Procurar um Coach ou uma terapia não se torna uma opção pois crê que poderia passar a impressão de fraqueza. Assim trabalha mais e mais ignorando suas próprias necessidades básicas de relaxamento lazer e descanso, dormindo pouco e trabalhando ou estudando nos finais de semana.

Muito embora nem todos os problemas que os advogados enfrentam possam ser atribuídos à sua linha de trabalho, são altas as taxas de Burnout  na área jurídica, o que sugere que certas características estressantes de ser um advogado deve ter pelo menos um efeito contributivo.

As exigências profissionais são muitas e incluem: pressões de tempo, sobrecarga de trabalho, concorrência, necessidade de conhecer uma ampla gama de temas jurídicos, necessidade de estar atualizado, dificuldade de equilibrar vida pessoal com as obrigações profissionais, lidar com casos complexos ou pessoas difíceis. Dificuldade para lidar com resultados muitas vezes injustos. Além das exigências psicológicas que levem o profissional na busca constante pelo perfeccionismo. Constante observância aos detalhes e análise lógica e objetiva, por isto, é comum muitos se tornarem workholics. Quando o nível de perfeição não é alcançado a insatisfação torna-se constante. Muitas vezes seus valores pessoais são confrontados com os valores do ambiente profissional, o que gera conflito psicológico profundo, que piora quando o profissional se recusa a buscar ajuda psicoterapêutica, desenvolvendo sentimentos crônicos de culpa e infelicidade.

Muitos advogados se queixam de não conseguirem tirar um tempo real de férias. A falta de tempo para relaxar e ter lazer implica potencialmente na saúde física e mental. Muito embora a profissão exija longas horas de trabalho para atender á carga de trabalho excessiva e clientes exigentes, principalmente para os profissionais associados ou autônomos é fundamental que o advogado aprenda  a gerir o tempo e estabelecer uma agenda de trabalho que inclua períodos de férias, mesmo que o ambiente de trabalho sugira que isto não seja sensato.

Advogados podem também serem pressionados pelos clientes para realizarem um excelente trabalho, de modo acelerado com uma relação custo-benefício eficiente. O cliente tem uma percepção entre as horas faturadas e os problemas que eles têm, porém para o advogado existe o problema da imprevisibilidade no que diz respeito ao comportamento do cliente, o atendimento das expectativas e sua capacidade legal de resolver o problema com custo eficiente.

Lidar com pessoas criminalmente perigosas, dificuldades financeiras, famílias ou rupturas conjugais complexas, humilhação pública, sabendo que muitas vezes o cliente não interage de forma construtiva. O advogado tem consciência que p cliente depende dele para garantir a sua liberdade, manter a sua qualidade de vida, obter a custódia de uma criança ou manter a viabilidade financeira. É enorme a pressão para preservar o bem – estar do cliente. São sempre questões sensíveis em que o emocional do advogado é colocado em check, o trabalho árduo do advogado pode passar despercebido.

Se não há uma interrupção neste processo, nem ajuda de um profissional adequado, surge à sensação de vazio interior. Os próximos estágios levam à depressão, colapso físico e emocional.

Solução em 3 etapas – A solução começa com três etapas:

1.      Reconhecer a situação e os sintomas;
2.      Reduzir o stress buscando ajuda com profissional da saúde mental;
3.      Desenvolver a resiliência, mais recursos físicos, emocionais e até mesmo espirituais.

Algumas sugestões – Quando o profissional se encontra nas fases iniciais ele pode diminuir os sintomas da Síndrome com estas sugestões:

1.    Faça uma lista das coisas que dão significado à vida, ao trabalho ou ao momento atual da profissão. Considere quando começou e onde está agora, estabeleça uma meta de chegada e o que precisa fazer para alcança-la. Afinal o que dá sentido á sua vida? Observe as coisas positivas que reforçam o bem estar e a gratificação quando se sente frustrado.
2.    Dieta equilibrada, regular e disciplinada. Respeite os momentos dedicados à alimentação, e quando estiver comendo, apenas coma, não leve o trabalho junto. Pratique exercícios físicos regularmente, procure um profissional adequado ou uma academia para uma orientação e atente para seguir suas recomendações para os exercícios de acordo com suas aptidões físicas.
3.    Contato social – A vida do profissional de Direito exige bons contatos profissionais. Ter novos amigos é bom, mas cultivar velhas amizades é melhor ainda. É muito importante criar histórias e memórias comuns.
4.    Tempo – Estabeleça tempo para a vida profissional, tempo para lazer e relaxamento, tempo para a família e tempo para cuidar da saúde. Procure descobrir coisas que realmente gosta de fazer e faça. Busque fazer coisas divertidas e diferentes. E tenha tempo para se dedicar aos cuidados da sua saúde mental emocional e até mesmo espiritual, ter alguém de confiança com quem possa conversar abertamente e que pode alertá-lo quando estiver ultrapassando os seus próprios limites.
5.    Desenvolva qualidade de vida.

Duas novas Terapias – As técnicas de tratamento da Síndrome de Burnout são muitas, mas duas têm protocolos científicos comprovando suas eficácias e profundos e duradouros benefícios: Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR) e a Terapia Focada na Compaixão (CFT).

MBSR – A prática regular da Mindfulness (Atenção Plena) produz benefícios múltiplos no desenvolvimento da atenção plena que incluem: mudanças de comportamentos e hábitos, autorregulação e controle emocional, regulação da pressão arterial, melhora na qualidade do sono, melhora da memória (devido ao aumento da massa cinzenta do cérebro), maior inteligência emocional, diminuição ou cura das dores crônicas, diminuição do stress e seus sintomas, melhora a comunicação e os relacionamentos interpessoais, desenvolve a resiliência, melhora o reconhecimento dos sintomas físicos, diminui a agressividade, desenvolve a liderança consciente principalmente nos trabalhos em equipe.

A atenção plena tem sido associada a um número grande de benefícios para a saúde física mental e emocional, incluindo maior facilidade para lidar com as tensões, melhora no funcionamento cognitivo, diminui os riscos de desenvolvimento de diversas doenças crônicas, aumenta a criatividade e a empatia.

O treinamento da mente com Mindfulness aliado á Terapia Focada na Compaixão proporcionam:

1.    Aumento das emoções positivas e diminuição das emoções destrutivas, que produzem uma ampla gama de recursos pessoais (aumento da atenção plena, encontro do propósito de vida, apoio social, diminuição dos sintomas da doença), mais satisfação com a vida, redução do stress;
2.    Conexão social positiva – efeito moderado na base tônus vagal marcador fisiológico do bem-estar;
3.    Diminuição da enxaqueca e outras dores crônicas – alívio da tensão emocional associada a dores crônicas, raiva e sofrimento psicológico;
4.    Ativa a empatia e processamento emocional do cérebro;
5.    Aumento da massa cinzenta do cérebro e outros aspectos da neuroplasticidade – áreas do cérebro relacionadas com a regulação da emoção;
6.    Relaxamento – controle cardíaco parassimpático (capacidade de entrar em um estado de relaxamento e reparação);
7.    Diminuição no processo de envelhecimento – As duas técnicas atuam diretamente nos telômeros (marcador biológico do envelhecimento);
8.    Aumento da empatia – Comportamento pró-social, aumento da compaixão por si - mesmo e com o outro; experiências afetivas positivas; diminui o preconceito implícito contra as minorias; maior percepção de conexão social.

A prática regular e disciplinada (em torno de 24 minutos diariamente, e que podem ser divididos em dois períodos) cultiva uma consciência voltada para o momento presente, por isto não só previne o Burnout como ajuda a lidar com todos os sintomas e o tratamento médico necessário.

Mas se você já percebeu os sintomas da Síndrome de Burnout não permita que a sua evolução o leva à quadros de depressão crônica e outras doenças graves. O tratamento para a Síndrome inclui a psicoterapia, medicação, mudanças no estilo de vida, atividade física regular. É muito importante inclusive uma análise junto com o psicoterapeuta para avaliar se é o ambiente profissional que levou ao desenvolvimento do Burnout ou são as atitudes da própria pessoa que gerou a Síndrome.

Sonia A F Santos – Psicoterapeuta, Mindfulness Therapist e Compassion Therapist. Facilitadora do programa de Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR) e do Curso Intensivo de Mindfulness. Atende com hora marcada. Contato: saleela.devi@gmail.com consultas presenciais ou On Line.

Informe-se sobre palestras gratuitas (dependendo da localidade) sobre Mindfulness e Terapia Focada na Compaixão e sobre Curso Intensivo de Mindfulness Based Stress Reduction para profissionais da área Jurídica ou sobre a participação no Encontro de Mindfulness e Compaixão no feriado de 12 de outivro no Centro Paulus/SP.

Referências:
·           Emma Seppala, PhD – The Science of Happiness Health & Sucess;
·           www.lawyerwithdepression.com          
·           Cary Cherniss – Beyond Burnout: Helping Teachers, Nurses, Therapist and Lawyers