sábado, 7 de março de 2015

Além da Neutralidade Espiritual


A prática do Zen é se tornar intimo com o que é! À medida que estamos ajudando pessoas reais e seus relacionamentos, o que poderia ser então mais importante? Devemos oferecer aos nossos clientes, alunos ou pacientes nossa autêntica presença, o nosso coração e a nossa vontade de revolver a sua dor e medo, bem como seus sucessos e fracassos. Como praticantes de meditação, nós projetamos a realidade de que estamos em uma jornada sagrada com os nossos clientes. Pois temos a sorte de profundamente experimentar uma conexão com as pessoas, apesar da verdade de que raramente sabemos exatamente o que estamos fazendo. Esta visão da prática é simples, porém não é nada fácil de realizar.

Uma formação convencional na área de Saúde Mental ou assistencial ou quem sabe até na área educacional reflete cada vez mais uma visão diferente sobre a ajuda, que nos referimos aqui como uma historia sobre a prática da meditação. Praticantes e estudiosos que são defensores da prática baseiam-se em evidências, como por exemplo:

a)     Estudos comprovam-se extremamente úteis para determinar o que fazer com o cliente;
b)     A redução da complexa realidade do cliente em um fator diagnosticável mais amigável de se lidar, e que existem muitas ferramentas úteis para amenizar ou até curar seu sofrimento;

c)      Ajudar os clientes iniciantes na prática que muitas vezes são ignorantes a respeito do verdadeiro valor da investigação dos resultados da prática contemplativa ou são demasiados medrosos para olharem para a sua própria intuição, ou irresponsáveis de mais para observar os resultados conquistados como parte do processo meditativo. Muitas vezes usamos determinadas palavras chiques para a história e chamamos isto de paradigma. Adoramos citar multidões de estudiosos e cientistas que disseram coisas semelhantes de forma a valorizar o nosso trabalho.

Princípios Espirituais que ajudam


É fundamental o conhecimento teórico e pratico para ajudar o outro, porém sempre existe a incerteza e o não-saber, que interferem com a nossa percepção direta e no nosso engajamento com o cliente. Nós somente somos mais capazes de servir aos nossos clientes ou pacientes se os nossos corações permanecerem abertos para o que eles têm a dizer, e devemos independente do que ouvimos agir de forma compassiva e coração aberto e disponível ao amor incondicional.

A metáfora Zen – forte para trás e leve para frente – lembra-nos que o nosso trabalho envolve também a região abaixo do nosso pescoço, pois é no nosso coração aberto que floresce toda a ajuda possível, pois é nesta região que nós somos estáveis e claros, e conseguimos um maior contato com a estrutura que o outro abre para nós. Devemos ver nos nossos encontros com o outro as oportunidades pessoais para estarmos plenamente vivos e totalmente presentes no momento. A nossa autoconsciência momento a momento e a qualidade da presença é um bem precioso e vital para os clientes.

Ser autoconsciente não é ser auto-obssessivo em relação ao desempenho profissional, não devemos estar distraídos, mas devemos na verdade estar atentos com o mundo do Eu e do outro. Eficácia com o atendimento ao cliente e ao mesmo tempo praticante contemplativo está inter-relacionada. Pois à medida que cada vez mais confiamos no momento presente, as respostas emergem da profunda sabedoria em vez de prontamente reagirmos no esquema tradicional – luta ou fuga – ou nas tentativas superficiais de agarrar às nossas certezas teóricas.

A radical aceitação do que é sob a forma de “nossos clientes, nosso consultório, as condições da nossa comunidade, assim como nossas próprias respostas, humores ou pensamentos”, oferecem uma base de transformação e mudança. Embora o termo possa parecer sugerir o contrário, a aceitação radical do momento presente não é sobre deixar “rolar” sobre a face da opressão. Temos que testemunhar a maneira como lidamos com os nossos clientes, seus traumas e o nosso próprio trauma muitas vezes ali refletido. Pois testemunhar envolve a nossa vontade de entrar na incerteza e escutar profundamente, sem apego ao resultado, e nossa capacidade para segurar a dor do cliente sem sermos oprimidos. Tendo testemunhado, a realidade social pode fornecer uma base para se engajar e agir também junto à própria comunidade.

Porque estamos intimamente ligados aos nossos clientes e a comunidade; este engajamento essencial é uma forma de espiritualidade, pois a narrativa do meu cliente é a minha própria e se não fosse por algumas circunstancias ou condições biológicas ou sociais, nós poderíamos facilmente trocar de lugar, e sentarmos na cadeira do cliente, e ele na nossa.  Nós não somos melhores que nossos clientes, alunos ou pacientes. Devemos apenas observar como nosso pensamento limitado retrata na verdade muitas questões como dualidades.

Psicologia Contemplativa

À medida que aprendemos, praticamos e incorporamos os princípios encontrados na Psicologia Budista e na prática da Meditação Zen, entramos em contato com recursos pessoais anteriormente subutilizados no nosso trabalho com o cliente. Percebemos que quanto mais nós mesmos praticamos a meditação, menos distraídos permaneceremos durante as nossas sessões.

Começamos a ouvir os nossos clientes com os nossos corações e quase que imediatamente nossa cabeça e nossas respostas emergem menos a partir da luta ou fuga, julgamentos e críticas, rotuladas como intervenções. Começamos a nos permitir nos preocuparmos mais com os nossos clientes, para nos tornarmos mais inspirados por suas histórias ao ficarmos cara a cara com a sua dor e com a realidade que faz que com trabalhemos no desconhecido.


Com a Psicologia Contemplativa prosseguimos nessa exploração baseado na sabedoria do Zen enfatizando – A qualidade sacramental de cada momento  (Austin, 1998 pag 12).  E desta forma, fazemos tudo o que podemos, a fim de entrar em cada momento plenamente. E cada vez mais sentimos a experiência que sentar junto com o cliente ou o grupo, ou a sala de aula e sentir este momento  como um evento sagrado e o quanto somos verdadeiramente afortunados por fazermos parte dele. A nossa presença é fundamentada na nossa aceitação radical dos sentimentos, pensamentos e circunstancias que surgem na nossa vida, na vida dos nossos clientes, e a experiência momento a momento que se desenrola quando sentamos juntos. Uma verdadeira jornada espiritual Zen e que é ao mesmo tempo muito simples. Na nossa calma, de coração aberto, abordamos de forma sincera e consciente tudo o que envolve a realidade ou assistimos ao mais ínfimo ato que nos permite tocar o nível mais profundo da verdade, que alguns podem rotular como Divino ou até mesmo como Deus.  A nossa conexão consciente, compassiva com um cliente em um consultório nos conecta com todos os seres do mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário