O Budismo é mais que uma religião, é também
uma psicologia, uma psicologia profunda. Seus ensinamentos estão sendo exaustivamente
pesquisados, e deste estudos estão surgindo muitas ferramentas para uso em
consultório e nos hospitais como a Mindfulness e a Terapia Focada na Compaixão.
A busca pelo alivio ou a cura do sofrimento (ou aflição) é a sua principal
premissa, o sofrimento existencial vem da doença, velhice e morte. Este insight
fez com que Sidharta Gautama fizesse uma jornada espiritual para buscar as
respostas para cessar com o sofrimento, e dela resultou o seu despertar.
Este insight central sustenta a abordagem
Budista para a saúde mental. O núcleo dos ensinamentos budistas está nas Quatro
Nobres Verdades, elas enfatizam a realidade da aflição: “A Nobre Verdade do sofrimento, aflição, é esta: nascimento, velhice,
doença, morte, tristeza, lamentação, dor, depressão e agitação são sofrimentos.
Dukkha está sendo associado com o que você não gosta, sendo separado do que
você gosta, e não é capaz de obter o que deseja”. (Samyutta Nikaya
61.11.5). Em suma, a vida humana está inegavelmente ligada a situações
angustiantes.
Da aflição, surge o desejo – Segunda Nobre
Verdade. Podemos ver nesta afirmação o progresso da angustia mental e da construção
das defesas psicológicas e finalmente dos estados mentais auto destrutivos
associados com a saúde mental grave como respostas para as angustias e aflições
– um processo de crescimento da fixação. Este apego em si é uma resposta à
aflição que ocorreu. Poderíamos explicar assim: diante de um problema
(aflição), por hábito ou comportamento as pessoas buscam a distração ou o
conforto, principalmente no nível dos sentidos. Com o tempo isto pode se tornar
uma repetição do hábito de buscar se distrair o que leva ao segundo ponto a – autoconstrução. Quando o problema persiste, a autoconstrução
pode não ser suficiente para fornecer distração e assim ela se divide em
impulsos destrutivos.
Este processo de autoconstrução na Psicologia
Budista se chama Dukkha. O ato de
criar e manter a auto perspectiva multiplica a dor na qual se baseia a ilusão. E
poderíamos analisar desta forma as outras Nobres Verdades. Os ensinamentos
budistas incluem também a Originação Interdependente na qual a mentalidade
comum é mantida através de um ciclo de vida condicionada. Vários ensinamentos fundamentais mostram como
as pessoas constroem a sua realidade e, portanto o Self através do apego e do
desejo. Este processo pode ser positivo
ou negativo. Atração e aversão surgem a partir das nossas reações ao mundo
material, e das reações a base da mentalidade global.
A Psicologia Budista propõe uma serie de
ensinamentos para treinar a mente. Um deles é a meditação, são muitas as
técnicas que evoluem com a prática disciplinada que permitem a compreensão dos
condicionamentos e do despreendimento dos objetos do desejo.
Os diversos ensinamentos budistas e
exercícios práticos oferecem orientação para aqueles que trabalham na Área da
Saúde Mental. Além das Quatro Nobres Verdades a Psicologia Budista também
possui três pilares importantes: Sila, Samadhi e Prajna.
·
Sila – Podemos traduzir
como disciplina ou a estrutura ética da vida. Para o Budismo viver bem devemos
ser moralmente sãos, cuidar dos outros (Compaixão, Altruísmo e Bondade
Amorosa), ter uma vida sóbria e respeito por todos os seres vivos. Este estilo
de vida proporciona o cultivo de estados mentais mais saudáveis.
·
Samadhi – Este é o
estado de espírito que se encontra uma pessoa que está ligada à terra
espiritualmente. É também o estado de êxtase que pode resultar da prática
disciplinada da meditação. Do Samadhi surgem os estados de calma e plenitude
alinhados espiritualmente, que proporcionam uma mudança duradoura e até mesmo
definitiva no praticante.
·
Prajna –
Entendimento ou sabedoria – ver profundamente. No Prajna experimentamos a integração
dos conhecimentos que os ensinamentos budistas oferecem.
A abordagem da Psicologia Budista para a
Saúde Mental baseia-se no afrouxamento da preocupação com a identidade, é um
convite para uma mudança na rigidez dos
pontos de vistas, incentiva a conexão com os outros e com o meio ambiente. Sabemos
que uma pessoa tranquila, mentalmente saudável não permanece preocupada consigo
mesmo o tempo todo, interessa-se pelas causas sociais, tem um senso de
realidade e visão de mundo moldado no todo e não no individualismo. Fundamenta-se
na importância de olhar para a realidade das coisas como elas realmente são.
É importante salientar que o Budismo não
postula a devoção a uma divindade que intervêm nos sofrimentos humanos, assim
como tem o Cristianismo e outras religiões. No Budismo o sofrimento (Dukkha)
tem dois tipos – aquele que surge das circunstâncias existenciais e aquele que
surge da mente condicionada. O primeiro tipo é incentivado a ser enfrentado com
coragem, o segundo deve ser tratado com a quebra dos padrões habituais de fuga
das aflições. Quando o indivíduo não consegue curar ou cessar o sofrimento
destas formas, ele deve ser visto como sendo um portador de um estado digno de
compaixão e não de condenação, e aqui surge a importância da Terapia Focada na
Compaixão e o incentivo a que todos se tornem altruísta.
Em resumo – os ensinamentos budistas nos incentivam
a buscar a compreensão do processo mental, e oferecem muitos métodos práticos
para o trabalho psicoterapêutico, muito são semelhantes aos métodos terapêuticos
ocidentais, por exemplo, no trabalho com medo e pavor (Majhima Nikaya 4) é
semelhante a dessensibilização, temos também a análise dos sonhos no (Nikaya
23) como na Análise Junguiana. A contribuição da Psicologia Budista mais
estudada atualmente está nas técnicas de acalmar e concentrar a mente, muito
importante também é a visão da compaixão e sabedoria como pedras angulares para
a melhora da saúde do ser humano.
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Mindfulness e Terapia Focada na Compaixão. Os interessados podem enviar e-mail
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