Os tempos atuais demonstram a urgência da
compreensão sobre a Compaixão, suas origens e significado, basta que todos nós
olhemos para o lado para visualizarmos tantas atrocidades, crueldades,
insensibilidades, destruição de vidas. O que está acontecendo? Em pleno século
XXI, será que o ser humano está nascendo sem empatia, sem a capacidade de nos
movermos em direção ao sofrimento do outro? Ou estamos aprendendo mais sobre a
indiferença, o ódio, a intolerância?
Talvez possamos começar ensinando as
crianças, futuros potenciais, incentivando as interações pacíficas e mais
solidárias, a superar os sentimentos de desprezo e desrespeito para com as
outras crianças e adultos do seu próprio meio social. Podemos ensinar as
crianças a ter empatia pelas pessoas feridas, na alma e no corpo, mesmo quando
elas nos causam danos, para que possam se tornar menos propensas a ferir os
outros no futuro.
Ao estudarmos a história da humanidade
percebemos o quanto as ideias filosóficas e religiosas influenciaram no
desenvolvimento das teorias psicológicas sobre a Compaixão e o Altruísmo. No Judaísmo
e no Cristianismo temos um mandamento: “Amarás
o teu próximo como a ti mesmo”. Encontramos muitas parábolas como a do Bom
Samaritano na Bíblia, que deveriam servir de exemplo de comportamento ao menos
para os fieis destas duas religiões. Já no Oriente, temos no Budismo,
ensinamentos essênciais sobre o comportamento que incluem as técnicas de
meditação Metta Bhavana e Tonglen, além das virtudes como: DANA (Doação), METTA
(Bondade), MUDITA (Alegria) e KARUNA (Compaixão). O mesmo acontece nas outras
religiões, todas elas abordam estes temas de forma similar.
Grandes universidades americanas têm estudado
e pesquisado o tema. Cientistas como Sharon Slazberg, Daniel Batson, Paul e Eve
Ekman, Paul Gilbert, Barbara Fredrickson entre outros têm se dedicado a estudar
a Compaixão e o Altruísmo, e outros temas ligados aos comportamentos pró-sociais
(as emoções, o serviço, a força do perdão e muitos outros temas) com resultados
animadores que motivam até mesmo os neurocientistas a estudar os mecanismos
cerebrais subjacentes sobre a empatia e a compaixão. Notamos também que estes
estudos não deixam de lado as abordagens interdisciplinares, pois perceberam a importância
da integração entre ciência, religião e filosofia.
Muitos cientistas e neurocientistas motivados
e incentivados por sua SS Dalai Lama abrem campos de discussão sobre a mente, emoção
e consciência. Monges budistas avançados em suas práticas meditativas têm sido
ampla e exaustivamente estudados sobre os efeitos da meditação e sua relação
com a mudança comportamental e emocional sobre a Compaixão e o Altruísmo e como
a Compaixão atua dentro da mente e do cérebro.. Pesquisas que abordam o tema
sobre a moralidade, o sentido da vida, como ela deve ser vivida e as razões que
orientam as relações interpessoais, deixam de lado as discordâncias existentes
durante muitos séculos entre a ciência e principalmente a Psicologia e as
diversas religiões e da filosofia.
Adam Smith (Teoria dos Sentimentos) define a
empatia como a capacidade de ter uma reação visceral ou emocional diante da
dor/angustia do outro, e a busca pela compreensão desta dor a partir da
perspectiva do outro, entendo assim que esta nova perspectiva se revela diferente
das nossas próprias experiências e sentimentos. A Empatia é muito relevante
quando falamos do desenvolvimento da percepção, pois ela permite que vejamos a
nós mesmos através dos olhos de outra pessoa. Até a alguns anos atrás,
presumia-se que a consciência e a simpatia dependiam da lenta maturação das
estruturas corticais para o desenvolvimento da autoconsciência e para a
sensibilização dos estados mentais/emocionais dos outros, e isto incluía a
percepção que os sentimentos de responsabilidade para com os outros, estava de
alguma forma ligado a resolução dos impulsos sexuais e da agressividade
iniciais da criança. Por isto se acreditava que nos seus primeiros anos a
criança era incapaz de sentir compaixão pelo outro. Também se acreditava, que a
maioria dos adultos no que tange ao tema – comportamento pró social – era
motivado pelo desejo de obter alguma recompensa, medo da punição, ou até mesmo
pelo sentimento de aversão diante das emoções. Mas felizmente, pesquisas e
estudos neurocientíficos com adultos e crianças começaram a dissipar estes
conceitos tão simplistas da natureza humana.
Tanto a teoria como os dados empíricos
indicam a influência da natureza e da criação no desenvolvimento da empatia. É observado
o aparecimento em crianças ainda pequenas a preocupação com os outros e até
mesmo com animais. Com condições ambientais adequadas, já no segundo ano de
vida, muitas crianças fazem uma transição
do desenvolvimento de padrões de angustia pessoal para as expressões mais
moduladas e adaptáveis de preocupação com o bem-estar dos outros. Porém em
ambientes inadequados, adversos como uma família caótica, traumas ou maus
tratos, as crianças podem ficar assustadas, com raiva e podem afastar os outros
do perigo; parece que elas se acostumam com a dor daqueles que a rodeiam. Sabemos
que estas situações afetam negativamente as relações sociais futuras e a
capacidade de solucionar de forma pacífica os conflitos que surgirão ao longo
da vida.
Ainda há muito para estudarmos, pesquisarmos
e aprendermos sobre como melhorarmos as condições de nosso potencial
altruístico e empático a fim de que nos tornemos menos insensíveis ao
sofrimento dos outros. Precisamos aprender a nutrir as nossas capacidades que
já são inerentes, alimentando nossa capacidade de cooperar para o bem do outro
sem o sentimento de competição.
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