KOANS

Um Koan não pode ser resolvido através de
argumentações intelectuais, lógica ou razão, nem debates. Um Koan só consegue
ser resolvido pelo poder da consciência plena e concentração correta. Sem a
preocupação com o tempo que isto pode levar ou a satisfação do ego. Quando
trabalhamos um Koan até a sua resolução sentimos uma sensação de alívio, uma
profunda compreensão da vida que remove os medos e dúvidas. Tomamos consciência
do nosso caminho e o percorremos com muita paz.
Consciência plena – significa lembrar-se de
alguma coisa completamente, sustentar isto no coração dia e noite. O Koan deve
permanecer em nossa consciência a cada segundo, todo minuto dia e noite, nunca
nos deixando por um momento sequer. Por isso é muito utilizado por mestres Zen
com seus discípulos, que pode passar meses em meditação buscando pela solução.
A consciência plena deve ser contínua e interrupta e a consciência plena
contínua produz um aumento no nível de concentração. O Koan deve estar sempre
na mente substituindo pensamentos ruminantes, ideologias, fantasias, deve ser a
parte mais importante da concentração mental. Pois enquanto não descobrir a
solução, a pessoa não realiza avanço algum, não desperto a sua própria
Iluminação, não compreende. Para muitos que buscam a Iluminação o Koan pode se
tornar uma questão de vida ou morte dos seus ideais.
Se o praticante de meditação Zen desejar ser
bem sucedido em seu trabalho com Koans, deve ser capaz de abrir mão e todo seu
conhecimento intelectual, de todas as suas noções, conceitos e preconceitos,
pontos de vista que sustenta com ardor, de toda literatura e ensinamentos
obtidos por meio intelectual. Se o aluno estiver aprisionado a uma opinião
pessoal, ponto de vista, ideologia, não terá a liberdade suficiente que
permitirá que o insight do Koan rompa
todas as barreiras de sua consciência mental. O Koan em si é apenas uma
ferramenta usada para compreender a verdadeira natureza de si – mesmo e de tudo
o que é.

Na Tradição Zen Budista, a comunidade é um
elemento muito positivo. Quando centenas de praticantes estão juntos olhando
silenciosa e profundamente, a energia coletiva da consciência plena e
concentração são muito poderosas. Esta energia coletiva nutre sua concentração
a cada minuto e cada segundo, dando-lhe oportunidade de avançar na sua prática
do Koan. A firme disciplina na prática da meditação Zazen, o ambiente favorável
para a concentração, a orientação de um instrutor experiente e o apoio
silencioso dos companheiros praticantes, tudo lhe proporciona muitas
oportunidades de sucesso.
Exemplos de Koans para reflexão (escolha
apenas um para trabalhar na busca da solução):
·
O Som de uma
única mão batendo palma?
·
O que você olhava antes de ser concebido?
·
Como pode
ver seus olhos sem usar o espelho?
·
As cinco
pétalas da única flor se abrem, e o fruto amadurece por si-mesmo.
·
Se uma
árvore cai na floresta e não há ninguém para vê-la cair. Qual é o som?
·
A mente cria
todas as coisas?
·
Sem a fala e
sem palavras, como pode a verdade ser expressa?
·
Mostre-me a
fonte da terra, do ar, do fogo e da água.
·
Quando a
tela é enrolada o grande céu se abre. No entanto, o céu não está em sintonia
com o Zen. É melhor esquecer o grande céu e se aposentar a cada vento.
·
Um cão tem a
natureza de Budha?
·
Antes, é
três vezes três. E depois, é três vezes três.
·
Quando teu
próprio espírito é elevado, trate de aumentar teu espírito, onde não existe
estilo algum, existe também algum estilo.

Na Meditação com Koan, procure seguir todas
as indicações do seu professor de meditação. Como os Koans são muito utilizados
pelos Mestres Zen, o melhor é que siga as regras da meditação Zazen. Depois de
sentado na postura, com a coluna vertebral corretamente alinhada, a respiração
normalizada e tranqüila, traga o Koan em foco e contemple o intricado quebra -
cabeça visualizada pela mente aflita em responder logo a questão. Se achar que
já sabe a resposta correta, volte ao foco novamente e contemple um pouco mais.
Procure esgotar a mente e todas as possibilidades encontradas pelo ego até
chegar ao ponto silencioso feliz. Neste momento poderá realmente atingir um
novo estado alterado de consciência.
Alguns contos Zen para sua contemplação:
·
Nem Mente, Nem Budha
Nansen foi visitar o Mestre
Hyakujo Nirvana. Hyakujo perguntou: “Desde tempos imemoriais, tiveram
os sábios algum ensinamento que nunca contaram para alguém?”
Nanser disse, sim!
Hyakujo perguntou: “Qual é o
ensinamento que nunca foi contado?”
Nansen disse – Não é mente, não é
Budha, não é uma coisa.
Hyakujo disse “Você o disse!”
Nansen – “É tudo o que sei. E
quanto a você?”
Hyakujo disse, “Eu também não sou
um grande professor, como poderia saber o que foi contado ou não?”
Nansen disse – “Não compreendo!”
Hyakujo disse – “Já lhe contei
demais.”
·
Esta Mente é Budha
Daibai perguntou a Baso: “O que é Budha?”
Baso respondeu: “Esta Mente é Budha.”
Sob céu azul, à luz do Sol.
Não é preciso procurar por aí.
Perguntar o que Budha é,
É como esconder saque no bolso e se declarar
inocente.
·
Uma xícara de chá
Nan – In, um Mestre japonês durante a era de
Meiji (1868-1912), recebeu um professor de uma universidade que veio lhe
inquirir sobre o Zen. Este iniciou um longo discurso intelectual sobre suas
duvidas. Nan-In, enquanto isso serviu chá. Ele encheu completamente a xícara de
seu visitante, e continuou a enchê-la, derramando chá pela borda.
O professor, vendo o excesso derramando, não
pode mais se conter e disse:
“Está muito cheio. Não cabe mais chá!”
“Como esta xícara,” Nan-In disse, “você está
muito cheio de suas próprias opiniões e especulações. Como posso eu lhe
demonstrar o Zen sem você primeiro esvaziar sua xícara?
·
Uma parábola
Certa vez, disse o Budha uma parábola: um
homem viajando em um campo encontrou um tigre. Ele correu, o tigre em seu
encalço. Aproximando-se de um precipício, tomou as raízes expostas de uma vinha
selvagem em suas mãos e pendurou-se precipitadamente abaixo, na beira do
abismo. O tigre o farejava acima. Tremendo, o homem olhou para baixo e viu, no
fundo do precipício, outro tigre a esperá-lo. Apenas a vinha o sustinha.
Mas ao olhar para a planta, viu dois ratos,
um negro e outro branco, roendo aos poucos sua raiz. Neste momento seus olhos
perceberam um belo morando vicejando perto. Segurando a vinha com uma mão, ele
pegou o morango com a outra e o comeu.
“Que delícia!”, ele disse.
·
Cotidiano é o Caminho
Joshu perguntou a Nansen: - Qual é o caminho?
Nansen disse – A vida cotidiana é o caminho.
Joshu perguntou: - Pode ser estudado?
Nansen respondeu: - Se você tentar estudar,
você vai estar longe dele.
Joshu perguntou: - Se eu não estudar, como eu
posso saber qual é o caminho?
Nansen disse: - O caminho não pertence ao
mundo da percepção, também não pertence ao mundo da não – percepção. Cognição é
uma ilusão e não cognição é sem sentido. Se você quiser alcançar o verdadeiro
caminho sem sombra de dúvida, coloque-se na mesma liberdade que o céu. O nome
dele não é bom e nem ruim.
Ao ouvir estas palavras Joshu se iluminou.
Na primavera, centenas de flores; no outono,
uma lua cheia.
No verão, uma brisa refrescante; no inverno,
acompanha a neve.
As coisas inúteis não perduram em sua mente.
Qualquer época do ano é uma boa época para
você!
·
Garotas
Tanzan e Eiko certa vez viajavam juntos por
uma estrada lamacenta. Uma pesada chuva ainda caía, dificultando a caminhada.
Chegando a uma curva, eles encontraram uma bela garota vestida com um quimono
de seda e cinta, incapaz de cruzar a intercessão.
“Venha, menina”, disse Tanzan de imediato.
Erguendo – a em seus braços, ele a carregou atravessando o lamaçal. Eiko não
falou nada até aquela noite quando eles atingiram o alojamento do Templo. Então
ele não mais se conteve e disse:
“Nós monges não nos aproximamos de mulheres!”
ele disse a Tanzan, “especialmente as jovens e belas. Isto é perigoso. Porque
fez aquilo?”
“Eu deixei a garota lá”, disse Tanzan. “Você
ainda a está carregando?”
·
Nem Bom Nem Ruim

Um monge chamado E-mio por inveja perseguiu o
sexto patriarca porque queria para si este grande tesouro. O sexto patriarca
colocou a tigela e o manto em uma pedra na estrada e disse para E-mio: “Estes
objetos apenas simbolizam a fé. Não adianta lutar por eles. Se você tiver
vontade de pegá-los, leve-os agora!”.
Quando E-mio foi mover a tigela e o manto
eram tão pesados como as montanhas. Ele não conseguia move-los. Tremendo de
vergonha ele disse: “Eu vim buscando ensinamentos, não tesouros materiais. Por
favor, me ensine!”.
O sexto patriarca disse: “Quando você não
acha bom e quando você não acha ruim, qual é o seu verdadeiro eu?”.
Ao ouvir estas palavras E-mio iluminou-se.
Transpiração eclodiu por todo o seu corpo. Ele chorou e fez uma reverencia,
dizendo: “Você me deu as palavras e significados secretos. Existe ainda uma
parte mais profunda do ensino?”.
O sexto patriarca respondeu “O que eu lhe
disse não é segredo algum. Quando você perceber o seu verdadeiro Eu, o segredo
pertencerá a você!”.
E-mio disse: “Eu estava sob a tutela do
quinto patriarca por muitos anos, mas não consegui realizar o meu verdadeiro Eu
até agora. Através de seu ensinamento encontrei a fonte. Uma pessoa bebe água e
conhece a si – mesmo se está frio ou quente. Posso chamá-lo meu professor?
O sexto patriarca respondeu: “Nós estudamos
juntos no âmbito do quinto patriarca. Chame-o de seu professor, mas apenas
valorize o que você alcançou!”.
Você não pode descrevê-lo, você não pode
incomodá-lo.
Você não pode admirá-lo, você não pode
senti-lo.
Ele é seu verdadeiro eu, não tem nada a
esconder.
Quando o mundo é destruído, ele não vai ser
destruído!
·
Entendimento
Tozan perguntou a seu Mestre Ungan: “Quem
pode entender o ensinamento das coisas não sensíveis?”.
Ungan respondeu: “Só as coisas não sensíveis
podem entender o ensinamento das coisas não sensíveis.”
Tozan então respondeu: “Para assim me
responder vós entendestes ou experimentastes este ensinamento?”
Ungan afirmou: “Se eu pudesse entendê-lo, tu
não o poderias”.
·
A Bela Noite
Baso e seus três discípulos, Hyakujo, Nansen
e Chizu (o ultimo nome significa “armazém da Sabedoria”), contemplavam, juntos
a bela Lua de Outono.
Hyakujo disse: “Esta é uma noite ideal para
realizar-se uma cerimônia budista”.
Nansen disse: “Esta noite perfeita para fazer
Zazen”.
Mas Chizu nada disse. Contemplava, com um
suave sorriso, a bela Lua naquela linda noite...
O Mestre Baso então comentou: “O Sutra acabou
de preencher o “Armazém da Sabedoria”. Depois retornou ao Oceano, ao
Universo...”
·
Um dedo apontando o Caminho
Antes de entendermos o Zen, as montanhas são
montanhas e os rios são rios;
Ao nos esforçarmos para entender o Zen, as
montanhas deixam de ser montanhas e os rios deixam de ser rios.
Quando finalmente entendemos o Zen, as
montanhas voltam a ser montanhas e os rios voltam a ser rios.
·
Além do Vazio
Certa vez um monge perguntou a Li-Chan: “Se
todas as coisas se reduzem em ultima análise ao Vazio, este a quê se reduzirá?”.
Respondeu o Mestre: “Minha língua é curta
demais para vos explicar”.
“E por que vossa língua é tão curta?”
perguntou o monge, intrigado.
“No interior e no exterior ela é da mesma
Vazia natureza”. Disse o Mestre.
·
Mente Ecológica, Mente Zen
Um discípulo perguntou ao seu Mestre Zen;
“Como posso fazer com que as montanhas, os rios e a grande Terra me
beneficiem?”.
·
O cão Zen
Um monge perguntou a Chao-chou: “Mestre, um
cão possui a natureza de Budha?”
Chao-Chou respondeu: “WU!”
·
O Homem Iluminado
Shogen perguntou: “Por que o homem iluminado
não se ergue e explica sua natureza?
E então completou: “Na verdade, não é
necess ário que as palavras venham da língua...”
REFERENCIA:
·
Thich Nhat
Hanh – Publicado na Revista Mindfulness Bell n.54
·
Contos Zen
Budistas
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