sexta-feira, 20 de junho de 2014

O que é um Koan?

KOANS
Um Koan é um dispositivo de meditação, um tipo especial de “Charada”. Os koans são resolvidos não com o intelecto, mas com a prática da consciência plena, concentração e insight. Um Koan pode ser contemplado e praticado individualmente ou coletivamente, mas enquanto permanecer sem solução, um Koan pode se tornar muito perturbador. É como uma flecha perfurando nosso corpo, e tentamos todas as formas de retirá-la, enquanto não resolvermos o Koan ele não nos deixa em paz. No entanto, esta flecha não veio do exterior, também não significa um infortúnio. Na verdade um Koan representa uma oportunidade de olharmos profundamente e transcendermos nossas preocupações e confusões. Um Koan nos força a tratar as grandes questões da vida, questões do nosso futuro, à verdadeira felicidade e muito mais.
Um Koan não pode ser resolvido através de argumentações intelectuais, lógica ou razão, nem debates. Um Koan só consegue ser resolvido pelo poder da consciência plena e concentração correta. Sem a preocupação com o tempo que isto pode levar ou a satisfação do ego. Quando trabalhamos um Koan até a sua resolução sentimos uma sensação de alívio, uma profunda compreensão da vida que remove os medos e dúvidas. Tomamos consciência do nosso caminho e o percorremos com muita paz.
Consciência plena – significa lembrar-se de alguma coisa completamente, sustentar isto no coração dia e noite. O Koan deve permanecer em nossa consciência a cada segundo, todo minuto dia e noite, nunca nos deixando por um momento sequer. Por isso é muito utilizado por mestres Zen com seus discípulos, que pode passar meses em meditação buscando pela solução. A consciência plena deve ser contínua e interrupta e a consciência plena contínua produz um aumento no nível de concentração. O Koan deve estar sempre na mente substituindo pensamentos ruminantes, ideologias, fantasias, deve ser a parte mais importante da concentração mental. Pois enquanto não descobrir a solução, a pessoa não realiza avanço algum, não desperto a sua própria Iluminação, não compreende. Para muitos que buscam a Iluminação o Koan pode se tornar uma questão de vida ou morte dos seus ideais.
Se o praticante de meditação Zen desejar ser bem sucedido em seu trabalho com Koans, deve ser capaz de abrir mão e todo seu conhecimento intelectual, de todas as suas noções, conceitos e preconceitos, pontos de vista que sustenta com ardor, de toda literatura e ensinamentos obtidos por meio intelectual. Se o aluno estiver aprisionado a uma opinião pessoal, ponto de vista, ideologia, não terá a liberdade suficiente que permitirá que  o insight do Koan rompa todas as barreiras de sua consciência mental. O Koan em si é apenas uma ferramenta usada para compreender a verdadeira natureza de si – mesmo e de tudo o que é.
O praticante de meditação deve largar tudo o que encontrou antes, tudo o que tinha previamente tomado como sendo verdade. Enquanto acreditar que já tem o conhecimento suficiente em suas mãos, a porta para sua consciência plena estará fechada. Mesmo que a Verdade chega batendo na sua porta, você não conseguirá abri-la. Na verdade todo seu conteúdo mental se torna apenas obstáculos à sua busca pela resposta. Budismo requer liberdade. Liberdade de pensamento é a condição básica para o progresso. Este é o verdadeiro espírito cientifico. E é precisamente neste espaço de liberdade que a flor da Sabedoria pode enfim desabrochar.
Na Tradição Zen Budista, a comunidade é um elemento muito positivo. Quando centenas de praticantes estão juntos olhando silenciosa e profundamente, a energia coletiva da consciência plena e concentração são muito poderosas. Esta energia coletiva nutre sua concentração a cada minuto e cada segundo, dando-lhe oportunidade de avançar na sua prática do Koan. A firme disciplina na prática da meditação Zazen, o ambiente favorável para a concentração, a orientação de um instrutor experiente e o apoio silencioso dos companheiros praticantes, tudo lhe proporciona muitas oportunidades de sucesso.
Exemplos de Koans para reflexão (escolha apenas um para trabalhar na busca da solução):
·      O Som de uma única mão batendo palma?
·      O que  você olhava antes de ser concebido?
·      Como pode ver seus olhos sem usar o espelho?
·      As cinco pétalas da única flor se abrem, e o fruto amadurece por si-mesmo.
·      Se uma árvore cai na floresta e não há ninguém para vê-la cair. Qual é o som?
·      A mente cria todas as coisas?
·      Sem a fala e sem palavras, como pode a verdade ser expressa?
·      Mostre-me a fonte da terra, do ar, do fogo e da água.
·      Quando a tela é enrolada o grande céu se abre. No entanto, o céu não está em sintonia com o Zen. É melhor esquecer o grande céu e se aposentar a cada vento.
·      Um cão tem a natureza de Budha?
·      Antes, é três vezes três. E depois, é três vezes três.
·      Quando teu próprio espírito é elevado, trate de aumentar teu espírito, onde não existe estilo algum, existe também algum estilo.
Os Koans não são somente perguntas, podem ser também contos ou parábolas para serem contempladas. E assim como as perguntas também não podem ser racionalizadas. Tanto em processo terapêutico como na relação Mestre/Discípulo tanto as perguntas como os contos podem ser usados para a compreensão da realidade e do Self, embora pareçam enigmas impossíveis de serem resolvidos eles são catalisadores para um grande entendimento e conhecimentos profundos; leva o praticante de um caminho de frustração para um lugar além da mente e do ego.
Na Meditação com Koan, procure seguir todas as indicações do seu professor de meditação. Como os Koans são muito utilizados pelos Mestres Zen, o melhor é que siga as regras da meditação Zazen. Depois de sentado na postura, com a coluna vertebral corretamente alinhada, a respiração normalizada e tranqüila, traga o Koan em foco e contemple o intricado quebra - cabeça visualizada pela mente aflita em responder logo a questão. Se achar que já sabe a resposta correta, volte ao foco novamente e contemple um pouco mais. Procure esgotar a mente e todas as possibilidades encontradas pelo ego até chegar ao ponto silencioso feliz. Neste momento poderá realmente atingir um novo estado alterado de consciência.
Alguns contos Zen para sua contemplação:

·      Nem Mente, Nem Budha
                Nansen foi visitar o Mestre Hyakujo Nirvana. Hyakujo perguntou: “Desde tempos                            imemoriais, tiveram os sábios algum ensinamento que nunca contaram para alguém?”
Nanser disse, sim!
Hyakujo perguntou: “Qual é o ensinamento que nunca foi contado?”
Nansen disse – Não é mente, não é Budha, não é uma coisa.
Hyakujo disse “Você o disse!”
Nansen – “É tudo o que sei. E quanto a você?”
Hyakujo disse, “Eu também não sou um grande professor, como poderia saber o que foi contado ou não?”
Nansen disse – “Não compreendo!”
Hyakujo disse – “Já lhe contei demais.”

·      Esta Mente é Budha
Daibai perguntou a Baso: “O que é Budha?”
Baso respondeu: “Esta Mente é Budha.”
Sob céu azul, à luz do Sol.
Não é preciso procurar por aí.
Perguntar o que Budha é,
É como esconder saque no bolso e se declarar inocente.

·      Uma xícara de chá

Nan – In, um Mestre japonês durante a era de Meiji (1868-1912), recebeu um professor de uma universidade que veio lhe inquirir sobre o Zen. Este iniciou um longo discurso intelectual sobre suas duvidas. Nan-In, enquanto isso serviu chá. Ele encheu completamente a xícara de seu visitante, e continuou a enchê-la, derramando chá pela borda.
O professor, vendo o excesso derramando, não pode mais se conter e disse:
“Está muito cheio. Não cabe mais chá!”
“Como esta xícara,” Nan-In disse, “você está muito cheio de suas próprias opiniões e especulações. Como posso eu lhe demonstrar o Zen sem você primeiro esvaziar sua xícara?
·      Uma parábola
Certa vez, disse o Budha uma parábola: um homem viajando em um campo encontrou um tigre. Ele correu, o tigre em seu encalço. Aproximando-se de um precipício, tomou as raízes expostas de uma vinha selvagem em suas mãos e pendurou-se precipitadamente abaixo, na beira do abismo. O tigre o farejava acima. Tremendo, o homem olhou para baixo e viu, no fundo do precipício, outro tigre a esperá-lo. Apenas a vinha o sustinha.
Mas ao olhar para a planta, viu dois ratos, um negro e outro branco, roendo aos poucos sua raiz. Neste momento seus olhos perceberam um belo morando vicejando perto. Segurando a vinha com uma mão, ele pegou o morango com a outra e o comeu.
“Que delícia!”, ele disse.
·      Cotidiano é o Caminho
Joshu perguntou a Nansen: - Qual é o caminho?
Nansen disse – A vida cotidiana é o caminho.
Joshu perguntou: - Pode ser estudado?
Nansen respondeu: - Se você tentar estudar, você vai estar longe dele.
Joshu perguntou: - Se eu não estudar, como eu posso saber qual é o caminho?
Nansen disse: - O caminho não pertence ao mundo da percepção, também não pertence ao mundo da não – percepção. Cognição é uma ilusão e não cognição é sem sentido. Se você quiser alcançar o verdadeiro caminho sem sombra de dúvida, coloque-se na mesma liberdade que o céu. O nome dele não é bom e nem ruim.
Ao ouvir estas palavras Joshu se iluminou.
Na primavera, centenas de flores; no outono, uma lua cheia.
No verão, uma brisa refrescante; no inverno, acompanha a neve.
As coisas inúteis não perduram em sua mente.
Qualquer época do ano é uma boa época para você!

·      Garotas

Tanzan e Eiko certa vez viajavam juntos por uma estrada lamacenta. Uma pesada chuva ainda caía, dificultando a caminhada. Chegando a uma curva, eles encontraram uma bela garota vestida com um quimono de seda e cinta, incapaz de cruzar a intercessão.
“Venha, menina”, disse Tanzan de imediato. Erguendo – a em seus braços, ele a carregou atravessando o lamaçal. Eiko não falou nada até aquela noite quando eles atingiram o alojamento do Templo. Então ele não mais se conteve e disse:
“Nós monges não nos aproximamos de mulheres!” ele disse a Tanzan, “especialmente as jovens e belas. Isto é perigoso. Porque fez aquilo?”
“Eu deixei a garota lá”, disse Tanzan. “Você ainda a está carregando?”

·      Nem Bom Nem Ruim

Quando ele se tornou emancipado o sexto patriarca recebeu a partir do quinto patriarca a tigela e a bata dada pelo Buddha para seus sucessores, geração após geração.
Um monge chamado E-mio por inveja perseguiu o sexto patriarca porque queria para si este grande tesouro. O sexto patriarca colocou a tigela e o manto em uma pedra na estrada e disse para E-mio: “Estes objetos apenas simbolizam a fé. Não adianta lutar por eles. Se você tiver vontade de pegá-los, leve-os agora!”.
Quando E-mio foi mover a tigela e o manto eram tão pesados como as montanhas. Ele não conseguia move-los. Tremendo de vergonha ele disse: “Eu vim buscando ensinamentos, não tesouros materiais. Por favor, me ensine!”.
O sexto patriarca disse: “Quando você não acha bom e quando você não acha ruim, qual é o seu verdadeiro eu?”.
Ao ouvir estas palavras E-mio iluminou-se. Transpiração eclodiu por todo o seu corpo. Ele chorou e fez uma reverencia, dizendo: “Você me deu as palavras e significados secretos. Existe ainda uma parte mais profunda do ensino?”.
O sexto patriarca respondeu “O que eu lhe disse não é segredo algum. Quando você perceber o seu verdadeiro Eu, o segredo pertencerá a você!”.
E-mio disse: “Eu estava sob a tutela do quinto patriarca por muitos anos, mas não consegui realizar o meu verdadeiro Eu até agora. Através de seu ensinamento encontrei a fonte. Uma pessoa bebe água e conhece a si – mesmo se está frio ou quente. Posso chamá-lo meu professor?
O sexto patriarca respondeu: “Nós estudamos juntos no âmbito do quinto patriarca. Chame-o de seu professor, mas apenas valorize o que você alcançou!”.

Você não pode descrevê-lo, você não pode incomodá-lo.
Você não pode admirá-lo, você não pode senti-lo.
Ele é seu verdadeiro eu, não tem nada a esconder.
Quando o mundo é destruído, ele não vai ser destruído!

·      Entendimento
Tozan perguntou a seu Mestre Ungan: “Quem pode entender o ensinamento das coisas não sensíveis?”.
Ungan respondeu: “Só as coisas não sensíveis podem entender o ensinamento das coisas não sensíveis.”
Tozan então respondeu: “Para assim me responder vós entendestes ou experimentastes este ensinamento?”
Ungan afirmou: “Se eu pudesse entendê-lo, tu não o poderias”.

·      A Bela Noite
Baso e seus três discípulos, Hyakujo, Nansen e Chizu (o ultimo nome significa “armazém da Sabedoria”), contemplavam, juntos a bela Lua de Outono.
Hyakujo disse: “Esta é uma noite ideal para realizar-se uma cerimônia budista”.
Nansen disse: “Esta noite perfeita para fazer Zazen”.
Mas Chizu nada disse. Contemplava, com um suave sorriso, a bela Lua naquela linda noite...
O Mestre Baso então comentou: “O Sutra acabou de preencher o “Armazém da Sabedoria”. Depois retornou ao Oceano, ao Universo...”

·      Um dedo apontando o Caminho
Antes de entendermos o Zen, as montanhas são montanhas e os rios são rios;
Ao nos esforçarmos para entender o Zen, as montanhas deixam de ser montanhas e os rios deixam de ser rios.
Quando finalmente entendemos o Zen, as montanhas voltam a ser montanhas e os rios voltam a ser rios.

·      Além do Vazio
Certa vez um monge perguntou a Li-Chan: “Se todas as coisas se reduzem em ultima análise ao Vazio, este a quê se reduzirá?”.
Respondeu o Mestre: “Minha língua é curta demais para vos explicar”.
“E por que vossa língua é tão curta?” perguntou o monge, intrigado.
“No interior e no exterior ela é da mesma Vazia natureza”. Disse o Mestre.

·      Mente Ecológica, Mente Zen
Um discípulo perguntou ao seu Mestre Zen; “Como posso fazer com que as montanhas, os rios e a grande Terra me beneficiem?”.
Respondeu o Mestre: “Vós deveis beneficiar as montanhas, os rios e a grande Terra.”

·      O cão Zen
Um monge perguntou a Chao-chou: “Mestre, um cão possui a natureza de Budha?”
Chao-Chou respondeu: “WU!”

·      O Homem Iluminado
Shogen perguntou: “Por que o homem iluminado não se ergue e explica sua natureza?
E então completou: “Na verdade, não é necessário que as palavras venham da língua...”
REFERENCIA:
·         Thich Nhat Hanh – Publicado na Revista Mindfulness Bell n.54

·         Contos Zen Budistas

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