Ken Wilber
O que vou fazer adiante é simplesmente descrever a Identidade
Não Dual agora mesmo, do modo como Ela É imediatamente vista. O que se segue é
fluxo de consciência, por isso perdoe-me qualquer falha. Simplesmente
descontraia a mente e leia o que se segue com leveza (se uma frase faz
imediatamente sentido, muito que bem, se não, continua lendo relaxadamente): “O
Que TU tens andado a procurar é literalmente e exatamente O Que lê esta página
agora mesmo. Esta Identidade não pode ser encontrada, pois nunca se perdeu,
pois TU sempre tens visto que TU tens sido TU”.
Esta Identidade é uma condição permanente de Tudo O Que
surge, É o Espaço no qual tudo surge, nada tem fora de Si e por isso É Paz
Absoluta, e irradia sua própria beleza em todas as direções. O João surge no
espaço desta Identidade. O João surge neste espaço infinito, nesta
receptividade pura. O João é um objeto, assim tal qual uma árvore ou uma nuvem
que surge no espaço da Identidade que TU És. Agora não estou a falar ao João,
estou a falar para O Que está ciente do João, Que É esta Identidade sempre presente.
Esta Identidade está ciente do João surgindo agora mesmo. Esta Identidade é
DEUS. DEUS está lendo esta página. O João não está lendo esta página, DEUS está
lendo esta página. A Identidade está ciente do João e ciente desta página. TU
não És O João. TU És O Que está ciente do João. O Que Está ciente do João É uma
Identidade que por Si mesma não pode ser vista, mas unicamente sentida, sentida
como uma certeza absoluta, uma inabalável Identidade, EU SOU este EU SOU
eternamente, intemporalmente, indeterminadamente.
Só existe esta Identidade em todas as direções. Tudo surge
espontaneamente no espaço desta Grande Perfeição Que É esta Identidade, que
está lendo esta página agora mesmo. E tu, João, És essa Identidade. Tu sempre
tens visto que TU És esta Identidade. Nunca houve um momento em que não
soubeste que TU És. TU não consegues recordar um momento no qual TU não foste
TU. A única coisa que sempre podes recordar é aquilo que esta Identidade fez.
Só existe esta Identidade. Não a podes alcançar, pois É Ela que tenta o
alcance, não a podes ver, pois É Ela que realiza a visão agora mesmo, isto
significa que, Tudo simplesmente surge na Tua presença: “O mundo inteiro surge
na Tua presença agora mesmo. TU És esta extensão na qual Tudo espontaneamente,
sem esforço, surge”. TU És Este Primeiro. TU sempre tens Sido Este Primeiro. Só
existe Este Primeiro. Não suponhas que O estás a encontrar. Não suponhas que tu
tens se esquecido Dele. A única coisa que sempre tens conhecido a única coisa
que te é dado recordar, a única coisa que na verdade estás sentindo agora mesmo
É Este Primeiro: “A Identidade, a Presença, a qualidade de Tudo, tal como É, e
tal como surge na Tua Presença – a simples sensação de Ser – que é Tudo O Que
TU sempre sentes, permanentemente”.
Olhe as nuvens, elas estão surgindo na Tua Consciência,
estão surgindo em TI. As nuvens estão fora do João, mas dentro da Tua
Identidade. Olha para o teu corpo e para esta sala. O teu corpo está nesta
sala, mas ambos o teu corpo e esta sala surgem na Tua Consciência. TU estás
literalmente sustentando-os amorosamente na Tua Consciência. As montanhas estão
aparecendo na Tua Consciência, estão surgindo em Ti e TU as sustentas
amorosamente na Tua Consciência, segurando o mundo que desponta no teu abraço,
qual terno e radiante amor. As montanhas estão surgindo fora do João, mas no
interior da Tua Identidade. As nuvens, as montanhas, e o João estão todos
simultaneamente, e sem esforço, surgindo Nesta Identidade: “O leitor desta
página”.
Tudo o que está surgindo surge neste inabalável EU SOU, que
não É uma coisa ou um objeto ou uma pessoa, mas a Receptividade ou Clareira na
qual todas as coisas e todos os objetos e todas as pessoas estão a surgir. Esta
Vacuidade, esta Receptividade, este Grandioso Espaço É a Tua Identidade, É O
Que Tu sempre tens sido, É O Que Tu És antes de os teus pais terem nascido, é O
Que Tu És antes de acontecer o Big-Bang. Antes de Abraão ser, EU SOU.
Não há um antes e um depois para este instante presente, que
a Identidade É. Só existe este instante, agora, da Identidade que está lendo
esta página neste preciso momento. Não há um passado e um futuro neste
interminável instante. Todos os antes e todos os depois surgem Nesta
Consciência. Só existe Esta Sempre-Presente, Nunca-Iniciada, Nunca-Terminada,
Não-Nascida, Imperecível Beleza Radiante que está ciente desta página, que está
ciente deste universo, e que encontram todos estes no Espaço que em Si Mesma É,
e por isto, todas as coisas surgem na Paz inabalável que as sustenta facilmente
com o Teu amparo. O João existe no universo; o universo existe na Tua
Identidade.
Por isso, Sê esta Sempre-Presente Identidade que está lendo
esta página. Não o estou a dizer ao João, estou a falar para Ti, deixa o João
aparecer e desaparecer como qualquer objeto. Permite que o João apareça, fique
por um pouco, e parta. O que tem isto a ver com a Tua Identidade? Todos os
objetos aparecem, permanecem, e partem no Vasto Espaço e Vacuidade que está
ciente deste momento. Ainda assim, este momento não tem fim, TU na verdade nunca
sentiste que o presente tenha chegado a um termo, pois isso nunca acontece: “O
presente é a única coisa que é real. Este instante imediato, presente, esta
simples sensação de Ser, exatamente a mesma Sensação-Consciência na qual esta
página flutua e na qual o João flutua, e na qual as nuvens flutuam”.
Quando TU sentes este instante presente, nada encontras fora
dele – não é possível vislumbrar o exterior deste instante intemporal, pois
nada existe além dele. Este instante é tudo quanto TU conheces, e este instante
imediato presente é simplesmente outro nome para a imensurável Identidade na
qual surge o Cosmos inteiro, uma radiante, rejubilante, extasiante dilatação de
felicidade e um desejo de partilhar esta alegria infinita com outra pessoa.
Porque esta página e as montanhas e as nuvens todas surgem
na Tua Consciência, nada existe fora da Tua Identidade. Que não existe
literalmente nada exterior à Tua Identidade significa que não existe
literalmente nada que a possa ameaçar. Uma vez que conheces esta Identidade, TU
conheces a Paz. Porque TU já És, diretamente, imediatamente e intimamente Um
idêntico a Aquele que está lendo esta página agora mesmo, TU conheces DEUS
agora mesmo, diretamente, imediatamente, inequivocamente e inegavelmente. E
porque TU conheces DEUS agora mesmo, como a Própria Identidade lendo esta
página, TU sabes que finalmente, verdadeiramente, profundamente estais em casa,
um lar que sempre diretamente tens conhecido e sempre tens fingido não
conhecer.
Por isto, deixa de fingir. Reconhece que TU És DEUS.
Reconhece que TU És Perfeição. Reconhece que TU És a Própria Verdade que os
sábios têm procurado há séculos. Reconhece que TU És Paz acima da inteligência.
Reconhece que estás tão arrebatadamente feliz que tiveste de manifestar este mundo
inteiro só para gerar o testemunho da beleza radiante que não podias conter só
em Ti e para Ti mesmo. Reconheces que a Testemunha desta página, a Identidade
deste e todos os mundos, é o Próprio e Único Verdadeiro Espírito que olha
através de todos os olhos e ouve através de todos os ouvidos e se estende em
amor e compaixão para abraçar os próprios seres que Ele mesmo criou numa
extasiada dança que é o segredo de todos os segredos. E reconhece que estás Só,
que És literalmente o Único em todo o universo. Não há outros para este
Primeiro. Há efetivamente outros para o João, mas tanto o João como os outros
surgem na Consciência que está lendo esta página, e esta Consciência, esta
Identidade, não tem outro, pois todos os outros surgem nesta Identidade. Primeiro
sem segundo É O Que está lendo esta página.
Portanto, Sejas Tu esse Primeiro. E dá também um abraço meu
ao João.
Ken
P.S.: “Compreendes,
completamente, plenamente, indubitavelmente, que aquele que está lendo esta
página é aquele que a escreveu, sim? O João, e o Ken, e esta página, todos
surgem na Testemunha desta página, percebeste? Difícil não é encontrar a
Identidade, o que é impossível é fugir dela. Por isso deixa toda essa excitação
do encontrar e do perder, e simplesmente seja Aquele no qual todos os mundos
estão agora a surgir. Vá, põe-te então na rua e vê o mundo maravilhoso
erguendo-se na tua própria sensação-consciência, surgindo no teu próprio Ser, e
depois, como de costume, vai beber uma cerveja, ou qualquer coisa assim”…
Koan:
Aponta o dedo para quem TU és!
Nenhum comentário:
Postar um comentário