Autocompaixão
Afinal o que
é Compaixão? - Ter compaixão por si
mesmo não é muito diferente de ter compaixão pelos outros. Ter compaixão pelo
outro significa dar-se conta de que o outro – sofre – você tem a opção de
ignorar e pensar que não tem nada a ver com o sofrimento dele ou até mesmo com
ele, mas você pode ter um sentimento que o incomoda, pode sentir uma comoção,
seu coração responde àquele sofrimento, é isto que significa – compaixão – com +
paixão, sofrer com, com + amor. E a compaixão nos atinge por inteiro: física
mental e emocionalmente, trás um calor, uma emoção, um sentimento de amor e um
desejo de ajudar ao menos a aliviar de alguma forma. Assim como consideramos o
sofrimento do outro, consideramos também o nosso, com respeito, compreensão e
carinho.
Ter compaixão pelo outro é também poder
oferecer não só uma ajuda material, mas também compreensão, carinho e bondade
amorosa e isto não é sentir piedade nem pena, nem há necessidade de fazer
julgamentos ou críticas, afinal quem somos nós para julgar o outro. Apenas nos
damos conta de que a maioria das pessoas passa por experiências que envolvem
uma historia de sofrimento fracasso erros ou imperfeições - experiências tão
humanas, tão nossas!
Então o que é autocompaixão? – Significa que
você age da mesma forma consigo mesmo quando você comete um erro, fracasso, uma
falha ou imperfeição, quando você busca com coragem olhar a imagem refletida no
espelho e não gosta do que vê! Poderia até ignorar, fingir que o espelho está
empoeirado e por isso não reflete a sua verdadeira imagem, pode também ignorar
o fato de que não tem consciência da extensão do seu próprio sofrimento ou da
sua mentalidade. Tem então a opção de parar de reclamar, parar de dizer a si –
mesmo – “Esta muito difícil agora! Como
posso cuidar de mim mesmo sozinho? Nem sei por onde começar!”.
Existem muitos caminhos que podem ser
percorridos, mas o primeiro passo começa interrompendo com o autojulgamento,
críticas e lamentações impiedosas, parando de olhar para as imperfeições ou
falhas. O trabalho com a autocompaixão começa quando conseguimos ser gentis e
compreensivos quando olhamos para a imagem real refletida no espelho, com todas
as nossas falhas – afinal quem é perfeito?
Comece honrando e aceitando a sua humanidade, aceitando que você não tem
controle sobre o Universo, por isso nem tudo acontece do jeitinho que você quer
que você têm seus próprios limites e crenças. E acima de tudo, que isto não o
torna diferente das outras pessoas. O autoconhecimento é fundamental,
infelizmente isto não é levado tão a sério como deveria, mas para tornar-se
aberto e receptivo para a realidade é preciso se conhecer, olhando com coragem
para aqueles aspectos de nós mesmos que gostaríamos de manter escondidos no
fundo de uma gaveta em algum lugar no sótão da nossa alma. Em vez de lutar
contra si mesmo, você pode começar sentindo bondade amorosa para consigo mesmo
e por todos os outros seres que fazem parte da sua história e depois da
humanidade.
Ter autocompaixão não é ter autoindulgência! Quando
incentivo o aluno ou o paciente a buscar o seu desenvolvimento nas práticas
meditativas é porque sei que em algum momento ele vai chegar na bondade amorosa
por si mesmo e pelos outros, faz parte do desenvolvimento da meditação. Mas quando
explico isto muitos têm medo de que desta forma deixem de ter aquela
personalidade tão individual que acreditam ser necessária na sociedade atual.
Preferem os subterfúgios do autoengano quando estão passando por algum stress ou sofrimento, em vez de procurarem ajuda vão para a academia, ou assistem algo na TV ou buscam na comida a solução – isto é autoindulgência! É como se o fato de nos dar algum prazer pudesse curar a dor que vem da alma, ou nos proporcionasse aquela felicidade duradoura que os livros de autoajuda prometem, mas que lá na frente só irão nos causar mais sofrimentos, como excesso de peso, vícios, mais stress e ansiedade ou depressão – que vem acompanhada da autoflagelação. O pior é que este processo em nada nos ajuda a mudar o que precisa ser mudado ou a enfrentar as verdades difíceis sobre nós mesmos; existe até mesmo um medo de nos odiarmos por isto. E lá vem a autocensura – porque sabemos que temos pontos fracos que insistimos em não reconhecer ou transformar.
A autocompaixão aciona uma força motivadora e
transformadora que proporciona a coragem necessária para ver com clareza e
coragem a nossa realidade e junto com a bondade amorosa enfrentamos o medo da
autocondenação.
É importante saber que autocompaixão não é
autoestima. Autoestima é o nosso senso
de valor reconhecido, de nos amarmos como somos, é reconhecermos que temos
nossas especialidades e habilidades que se destacam. Sabemos que pessoas com
baixa autoestima podem chegar até os quadros de depressão e falta de motivação.
Tentativas frustradas de aumentar a autoestima sem a contribuição de um
terapeuta podem levar a comportamentos egocêntricos ou narcisistas, irritações
e agressividades, ocultação dos defeitos e falhas, distorção da verdade, falta
de clareza. Nossa autoestima é flexível, têm dias em que ela está elevada, nos
sentimos o máximo! Têm dias que nos sentimos mais sombrios, depende das circunstâncias,
do ambiente ou das experiências e seus valores.
Já a autocompaixão não depende das nossas auto
avaliações. Na autocompaixão não me sinto melhor que o outro, sinto amor por
mim e pelo mundo que me rodeia, compreendo que passo por sofrimentos e que os
outros também têm histórias para contar, o que nos proporciona clareza,
bondade, e consciência de que nada precisa ficar escondido. A autocompaixão é
independente das circunstâncias externas, está sempre disponível, mesmo quando
cheguei ao fundo do poço! A autocompaixão está diretamente conectada com a
nossa resiliência, com a nossa capacidade de regular nossas emoções, com a consciência
da nossa verdadeira natureza; com ela nos tornamos mais solidários, altruístas
e bondosos, sem desejar receber nada em troca, nem mesmo um muito obrigado!
Como posso
desenvolver a autocompaixão?
A autocompaixão não é um modismo nem mesmo
uma falácia. Ela pode ser desenvolvida pelo autoconhecimento adquirido pelo
processo terapêutico, pela prática de técnicas meditativas como Mindfulness e
Metta Bhavana (técnicas que foram trazidas para o Ocidente por cientistas e
pesquisadores da saúde mental que encontraram na Psicologia Budista e nos
ensinamentos de Budha meios diferentes de lidar com o sofrimento humano e que
tem surpreendido pelos resultados positivos encontrados em várias áreas, e o
melhor é que podem ser praticadas por qualquer pessoa de qualquer crença ou
idade ou problema de saúde). A prática correta e disciplinada da Mindfulness
leva ao desenvolvimento do Loving Kindness (Bondade Amorosa) e dela para a
Autocompaixão é só um passo. Uma jornada nem sempre fácil quanto à meditação
simplesmente parecer ser, mas que quando percorrida de forma adequada leva o
praticante a um desenvolvimento e expansão de consciência que culmina na
Compaixão e no Altruísmo.
Se desejarmos um mundo melhor precisamos
começar a transformação por nós mesmos, fica então um convite – que tal começar
a tirar para fora da gaveta tudo aquilo que você vem escondendo de si mesmo?
Sonia A F Santos (Saleela Devi) – Analista Junguiana,
Integral Therapist, Mindfulness Therapist, Terapia Focada na Compaixão e
Psicologia Budista, trabalha a mais de 15 anos com desenvolvimento e expansão
de consciência que incluem técnicas modernas como as práticas meditativas e o
autoconhecimento pelo estudo das Filosofias Orientais. Contato: saleela.devi@gmail.com
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