Mindfulness
e Loving Kindness (Metta Bhavana)
Para Refugiados
e Traumatizados
Mindfulness (Atenção Plena) é uma técnica de meditação de origem budista que
possui o nome de Shamatha (sânscrito) ou Anapanasati (Pali). Foi trazida para o
Ocidente e tem sido amplamente pesquisada nos centros de pesquisas científicas
de grandes Universidades por cientistas como Jon Kabat Zinn, Dr. Richard
Davidson, Daniel Goleman, Sharon Salzberg, Sara Lazar, entre tantos outros que
buscam desta forma conhecer a fundo os profundos benefícios que Mindfulness
proporciona na saúde física, mental e emocional. Da neuroplasticidade, aumento
da massa cinzenta do cérebro, melhora da memória e concentração, controle do
stress, diminuição das dores crônicas, regulação e controle emocional, diminuição
do stress e seus sintomas físicos e emocionais estão entre muitos resultados protocolados.
A prática de Mindfulness tem sido incentivada
em diferentes casos, desde gestantes, pacientes oncológicos, crianças com TDH,
pacientes psiquiátricos com diferentes transtornos: Alimentares, Obsessivos
Compulsivos Impulsivos, Depressão e Ansiedade até na área de educação e grandes
corporações. É uma técnica que pode ser realizada por pessoas de todas as
idades, sexo e condições de saúde física e emocional, e em qualquer lugar o que
facilita o incentivo, pois não necessita de ambiente, roupa música ou postura
específica. É simples, sendo considerada uma técnica de meditação passiva com
objeto, e para facilitar o professor aconselha que o objeto seja a respiração o
que facilita a prática em qualquer momento do dia e em qualquer lugar ou
situação depois que o aluno aprende a fazer.
Parece fácil, mas nem tanto – a grande
maioria das pessoas tem dificuldade de manter a mente focada em um objeto por
muito tempo; muitos não conseguem manter o foco mental por mais que alguns
segundos sem que um pensamento surja ou uma distração qualquer tire a atenção.
Acostumados e motivados a pensar, as pessoas normalmente possuem pensamentos
ruminantes e ações automáticas. Atividades cotidianas simples são executadas
automaticamente, estamos em muitos lugares ou no passado, ou futuro, tentando
solucionar problemas, dialogando mentalmente e muito mais, mas dificilmente
estamos inteiramente centrados no momento presente. Mindfulness tornou-se muito
importante porque ela desenvolve a atenção plena e consciente no momento
presente, sem julgamentos.
Os praticantes de meditação avançados sabem
que a prática evolui, passando por nove estágios já estudados, não é preciso
chegar ao ultimo para perceber as profundas mudanças pelo qual o praticante
passa, e, neste processo evolucionário percebe-se uma mudança importante – o comportamento
compassivo, ou seja, a Mindfulness evolui para outra técnica conhecida no
Budismo como Metta Bhavana (Loving Kindness ou Bondade Amorosa,
como se tornou conhecida no Ocidente). Desta evolução foi desenvolvida outra
terapia – Terapia Focada na Compaixão (CFT), considerada como a terceira
geração da Terapia Cognitiva.
Agora muitos cientistas da saúde mental como
Paul Gilbert – Psicólogo Phd (Inglaterra) – Terapia Focada na Compaixão (CFT) e
Mindfulness e, Paul Frewen – Psicólogo PhD (Canadá) – Mindfulness e Metta
Trauma Therapy (MMTT) - estão aplicando estas duas técnicas como abordagens
terapêuticas na saúde mental.
Isto significa utilizar a Mindfulness em
conjunto com a Metta Bhavana (Bondade
Amorosa) no tratamento de pacientes que sofrem com Traumas e distúrbios devido
ao stress e seus sintomas. O uso da Compaixão e do Altruísmo no processo terapêutico
proporciona a regulação e controle emocional (ajuda o paciente a lidar melhor
com as emoções difíceis),
Princípios
Básicos: A
prática das meditações: Mindfulness e Metta
Bhavana incluem – prática do Yoga (exercícios de alongamentos suaves),
exercícios de respiração, exercícios de Body Scan (relação mente/corpo/sintomas
e sensações), meditações guiadas (práticas sentadas), meditação com movimento
(Caminhando ou durante a execução de atividades normais do cotidiano),
devidamente ensinadas por um professor de meditação Mindfulness e Metta Bhavana ou pelo profissional que
faz o acompanhamento do processo terapêutico.
Traumas – A ciência
já conhece o processo fisiológico do stress que pode culminar nas doenças
autoimunes. Desta forma o stress leva também a sérios problemas psicológicos causados
por uma ou mais experiências traumáticas ou eventos com relacionamentos
interpessoais. As definições destes eventos traumáticos são muito amplas, mas podem
também serem bem específicas, mas o importante é que o dano que contínua influenciando
a vida da pessoa ao longo de muitos anos. Como exemplo de traumas podemos
apenas citar alguns:
·
Rejeições, abandonos, traições em relacionamentos amorosos ou
interpessoais;
·
Luto, perdas de pessoas amadas, amigos, comunidades;
·
Agressões físicas ou sexuais, estupros, assaltos, sequestros e
torturas;
·
Testemunho de agressões com outras pessoas ou vivencia de situações
de guerra, conflitos armados, catástrofes naturais; acidentes (carro, trabalho,
etc.)
·
Abusos verbais e/ou emocionais, intimidações (sexuais, físicas,
políticas)
·
Conflitos emocionais como culpa, vergonha com danos físicos e/ou
psicológicos.
Muitos dos sofrimentos infringidos pela
tortura têm efeitos duradouros nos sobreviventes, o que se torna um problema de
saúde pública uma vez que atinge não só os sobreviventes, mas também as suas
famílias e comunidades. Atualmente são mais de 9 milhões de refugiados e quase 10 milhões que requerem
asilo (refugiados, deslocados internos, apátriados, e outras pessoas que
passaram ou tiveram diante de altos riscos de violações dos direitos humanos)
em vários países ao redor do mundo.
Pessoas traumatizadas têm muita dificuldade
de se ajustarem a uma nova oportunidade de vida mesmo quando estão em suas
próprias comunidades, mas os refugiados e asilados tem ainda mais reduzidas a
capacidade de se reassentarem e integrarem a uma nova sociedade. Algumas pessoas
são mais resilientes, outras, no entanto passam por grandes mudanças duradouras
em suas personalidades. Por isto além de terem que ter supridas as suas
necessidades básicas e ajuda no processo de readaptação como emprego, moradia e
educação, eles podem necessitar de ajuda psicológica e/psiquiátrica.
Pessoas que passaram por uma experiência traumática
podem ter memorias intrusivas, angústias, pensamentos ruminantes, dores
crônicas, tics nervosos, percepções sensoriais, descontroles emocionais que podem
culminar em transtornos como: ansiedade, depressão, déficit de atenção,
dissociação. Não conseguem controlar o medo, preocupação e ansiedade o que
dificulta relacionamentos pessoais e profissionais, ajustes a novas normas
sociais no caso de refugiados, por exemplo, ou novas famílias (crianças e
adolescentes). Algumas pessoas se sentem incapacitadas para retomar o controle
de suas vidas, mesmo diante das atividades normais da vida cotidiana, muitas
tentam esquecer o evento, mas não conseguem evitar as lembranças intrusivas e
angustiantes, tendo assim muita dificuldade de manter a atenção e o centramento
do que acontece no momento presente. Algumas chegam a passar pela experiência de
estados alterados de consciência - distúrbios, alterações de sentido de tempo e
espaço, relação mente corpo e emoções, flashbacks das experiências traumáticas,
perda de noção do momento presente, sensação de aceleração ou desaceleração do
tempo, além dos pensamentos ruminantes alguns declaram ouvir vozes, sensação de
estarem fora do corpo, ou de perda de parte do corpo, ou de não estarem no
próprio corpo, sensação de entorpecimento ou de não conseguirem mais
experimentarem emoções nem positivas nem negativas, não conseguem mais se
reconhecer, ou sentem-se divididas ou aparentemente separadas de si – mesmo.
Devido a algumas destas situações, muitas
pessoas buscam refúgios tentando de alguma forma aprender a viver em outro
país, levando consigo a experiência traumática enquanto se ajustam a uma nova
cultura. Alguns conseguem um tratamento psicológico ou psiquiátrico para dar
suporte a este reinicio, muitos tentam se ajustar sem um acompanhamento
adequado.
A Mindfulness Therapy em conjunto com a
Terapia Focada na Compaixão ou a Metta
Bhavana Therapy ajudam as pessoas que passaram por experiências traumáticas
a regularem e controlarem suas emoções, lidarem com os sentimentos difíceis,
melhorarem a condição física e bem-estar geral, desenvolverem foco e atenção
consciente, a cultivarem o desenvolvimento da autocompaixão, da bondade amorosa
para consigo mesmo e com os outros, sem julgamentos ou críticas. O processo intercalado de Mindfulness e
Bondade Amorosa/Compaixão ajudam as pessoas com stress pós-traumático a se
tornarem mais conscientes de si-mesmas e da vida cotidiana. Isto proporciona:
·
Qualidade de
Presença –
Aprendem a viver no momento presente, sem esquecerem-se do passado suas
histórias, memórias e emoções, porém se relacionando com o presente de forma
mais íntegra;
·
Desenvolvimento
da Consciência – Aprendem a tornarem-se mais conscientes dos seus cinco sentidos,
estados emocionais, a compreenderem e descreverem suas experiências, a manterem
os “pés no chão”;
·
Deixar ir – Aprendem a
reconhecer a hora de deixar “ir” o passado e suas experiências traumáticas, a
ficarem menos conectados com emoções destrutivas e a não reagirem automaticamente
a impulsos ou desejos prejudiciais;
·
Bondade
Amorosa –
Aprendem a sentir maior compaixão e altruísmo por si mesmo e pelos outros, o
que contribui para aumento da autoestima e autoconfiança;
·
Centramento
e Foco –
Desenvolvimento do sentimento de segurança, maior conexão com o próprio corpo e
as sensações e sintomas, tornarem-se capazes de sentir prazer e alegria com o
corpo, com as pequenas conquistas diárias e a tolerarem melhor as dores físicas
e as angustias emocionais;
·
Aceitação – Aprendem a
aceitar as coisas como são, as quem podem ser mudadas e as que não podem, a
tomar a atitude de provocar mudanças a partir de suas próprias ações.
A prática
dos exercícios deve ser ensinada para que o paciente possa executá-la todos os
dias, anotando em um diário todos os sintomas, pensamentos, emoções positivas
ou destrutivas que tenha experimentado no momento. O profissional que o acompanha
deve gravar meditações guiadas que o paciente ouvirá de modo a facilitar a
prática da Mindfulness e da Metta Bhavana,
deve também ensinar a substituir os pensamentos negativos, ilógicos,
fantasiosos ou prejudiciais por outros mais equilibrados, positivos,
construtivos, fundamentados ou adaptados. Deve ensinar exercícios de
alongamentos simples, exercícios de respiração, a relação mente/corpo/emoções, e
outros ligados a terapias corporais, incentivando-o a registrar os pensamentos
automáticos, a reconhecer os obstáculos à prática e como solucioná-los de modo
a ajuda-los e motivá-los na prática diária para que possam sentir as alterações,
dificuldades e os benefícios, fazendo - o compreender que para que a técnica
surta resultados benéficos e duradouros deve haver disciplina, perseverança e
determinação. As práticas quando bem executadas tornam o paciente menos vulneráveis
ao stress, depressão e ansiedade, o que contribui na recuperação dos sintomas
traumáticos e sintomas do stress, ajudam também na adaptação da nova
experiência de vida.
Esta composição
de técnicas quando aplicadas à refugiados e minorias sociais resultam em maior
flexibilidade emocional, atuam nos pensamentos automáticos, servem como
técnicas de controle emocional, diminuem a perturbação somática, diminui o viés
atencional á ameaça, faz parte de um novo modo de processamento adaptativo (que
em conjunto com a CFT centra na flexibilidade psicológica).
Referencia:
·
Acceptance
And Mindfulness Tecniques as Applied to Refugee And Ethnic Minority Populations
With PTSD – Cognitive And Behavioral Practice – Vol 20 – Feb/2013;
·
MMTT –
Mindfulness & Metta Based Trauma Therapy – Dr Paul Frewen Western
University Canadá;
·
Loving –
Kindness In The Treatment Of Traumatized Refugess And Minority – Journal Clinical
Psychology - VOL 69 – 2013
·
Treating
Survivors of Torture and Refugee Trauma – Journal of Alternative And
Complementary Medicine – 2008 Sep
·
Compassion
Mindfulness – Paul Gilbert PhD
·
The
Compassive Mind – Paul Gilbert PhD