HARA – é uma
palavra japonesa que não tem tradução no Ocidente, ela se refere literalmente à
parte inferior do abdômen, na altura do segundo Cakra (Swadhisthana), é uma
palavra que tem conotações psicológicas e espirituais no Oriente. Neste ponto
importante do corpo humano temos a unificação das dimensões físicas, psicológicas
e espirituais de uma pessoa.
Para a Escola
Rinzai do Budismo Zen japonês na linhagem Chozen – ji, HARA é um ponto
fundamental, pois é um o ponto que deve se4r desenvolvido, principalmente
através da prática da meditação ZAZEN, mas também pela prática de artes
marciais e pelas artes plásticas. Na perspectiva desta escola de Budismo não há
ZEN sem HARA. Isto é pouco divulgado no Ocidente.
A dualidade
divide o eu e o outro, vida e morte, certo e errado. O Zen desenvolve o
praticante para trabalhar a partir do nível mais sutil da dualidade. Zen é um
ramo do Budismo, com uma historia de 1.500 anos e milhares de páginas de
ensinamentos estudado por budistas e não- budistas, praticantes de meditação de
todos os níveis ou por aqueles que desejam se iniciar na prática para apenas
obter os múltiplos benefícios que ela proporciona.
Treinar a
prática do ZAZEN significa aprender a respirar corretamente, ter postura (meditação
sentada), resolver as dualidades (KOANS), entoar Sutras (OKYO).
Ken Kushner
(Chozen – Ji Betsuin International Zen Dojo of Wisconsin) experiente professor da Meditação ZAZEN conta
sua experiência – “Quando comecei meu
treinamento Zen em 1977, foi dada instrução básica em Zazen. Além de ser
ensinado como estabelecer a minha postura correta e concentração estável, foi –me
dito para respirar com meu HARA. Meus professores
explicaram que o HARA é uma palavra japonesa que se refere à parte inferior do
meu abdômen e que eu deveria sempre sentir uma pressão nesta região. Por mais
que tentasse, eu não conseguia respirar nesta região e muito menos manter a
pressão sobre ela enquanto eu exalava e inspirava. Durante a prática formal do ZAZEN, eu era constantemente corrigido pelo
meu professor – “Respire com seu HARA!”. Mas era em vão, eu continuava a
respirar de forma curta, peitoral e não tinha ideia de como deveria levar a
minha respiração para a parte inferior do meu abdômen. Quando eu pedi
orientação foi – me dito para sentar-me por mais tempo. Cheguei a pensar que o
conceito de HARA era uma farsa. Apesar disto, eu permanecia sentado em ZAZEN,
apesar do meu ceticismo buscava encontrar meu ponto HARA”.
“Foi quando de repente aconteceu. Mais de 35
anos depois, ainda posso me lembrar das circunstancias e sensações corporais.
Já não me lembro a quanto tempo eu vinha treinando, talvez seis meses ou um
ano. Eu tinha tido um dai frustrante no trabalho, estava muito zangado com um
colega de trabalho. Sentei-me em ZAZEN, contei aos meus colegas de meditação os
insultos do dia. Praticamente vomitei minha raiva, e senti então como algo
mudou minha forma de respirar. Era um evento abrupto, descontínuo. Eu sentia um
relaxamento na parte inferior do meu abdômen enquanto inalava, uma sensação de
plenitude no meu abdômen inferior enquanto exalava. Era como se meu estomago
tivesse caído. Ao mesmo tempo que toda a parte superior do meu corpo, peito
ombros e pescoço relaxava profundamente. E as mudanças não eram apenas físicas.
Me sentia calmo, relaxado e alerta! Minha raiva havia evaporado, minha visão
estava mais clara, aprecia que eu tinha adquirido uma visão panorâmica. Então disse
a mim mesmo: “este é o meu HARA!” peguei minhas almofadas (ZAFU) entrei no
ZENDO (sala de meditação) e fui praticar o ZAZEN”.
“Aquela experiência foi o primeiro ponto de
virada mais importante no meu treinamento do ZAZEN. As mudanças físicas
permaneceram comigo por dias, além da calma e da clareza. Experimentava meu corpo
de forma diferente. Minha respiração tornou-se lenta e profunda. Havia menos
tensão no meu corpo, podia sentir o meu centro. Apesar de perder com o tempo a
sensação do HARA, descobri que podia recuperá-la através da prática
disciplinada da meditação ZAZEN”.
É muito
incomum encontrarmos relatos das experiências vivenciadas por praticantes avançados
de meditação (seja qual for a técnica utilizada), primeiro por que elas são
individuais, únicas; segundo por que não devem ser o motivo pelo qual se medita
– viver experiências místicas, espirituais ou transcendentais, terceiro por que
aquilo que vivenciamos devemos guardar para nós mesmos. Mas eventualmente
conhecermos a profundidade destas experiências nos mostra o quão transformador
e enriquecedor pode ser praticar meditação.
Como foi
dito acima, HARA envolve a unificação dos componentes físicos, psicológicos e
espirituais de todo indivíduo. Podemos então dizer que HARA é um todo orgânico,
tridimensional. No aspecto físico, HARA se refere a parte inferior do abdômen,
sua localização real é dentro da cavidade abdominal. Além de sua localização estática,
o HARA pode também ser visto em termos dinâmicos, através da nossa respiração,
e na Escola Rinzai o esforço é
desenvolver o HARA.
Existem tipos
diferentes de respiração:
Um tipo é a Peitoral,
Torácica ou Costal. Isto é caracterizado
pelo envolvimento dos músculos do peito, pela parte superior do corpo e pela
falta de engajamento dos músculos da parte inferior do abdômen.
Outra é a Abdominal
ou Diafragmática. Este tipo se baseia nos músculos da parte inferior do abdômen do que na parte
superior do corpo. Neste tipo, o abdômen funciona como um fole; se expande
durante a inalação e contrai durante a expiração. É o tipo mais comum usado nas
diferentes práticas de meditação. Também utilizado nos tratamentos médicos e
psicológicos, bem como nos treinamentos para relaxamento e gestão do stress e
ansiedade. Porém na prática do ZAZEN, a parte inferior do abdômen deve expandir
durante a inalação e também durante a exalação. Ou seja, a parte inferior do abdômen
continua se expandindo ao longo do ciclo da respiração. É um tipo incomum de
respiração!
Aprender a
meditar corretamente é muito mais que aprender a arrumar um ambiente adequando,
escolher uma musica vestir uma roupa confortável, sentar numa postura
complicada ou dolorosa e ficar em silencio por algum tempo. Entre os muitos
detalhes técnicos e ensinamentos específicos a cada técnica, é de extrema importância
aprender a forma correta de respirar. Muitas pessoas acreditam que meditar é
somente sentar-se em silencio por algum tempo e que desta forma obterão os múltiplos
benefícios da meditação como o funcionamento adequado dos vários sistemas
fisiológicos, aumentar a massa cinzenta do cérebro, aprender a focar,
concentrar e adquirir atenção plena entre tantos outros. Mas não basta sentar-se
em silencio, é preciso muito mais, é preciso até mesmo aprender a respirar!
Todas as pessoas, de qualquer idade, crença religiosa/espiritual pode aprender e praticar as diferentes técnicas de meditação. Para obter seus benefícios físicos, mentais e espirituais é necessário ter o acompanhamento de um bom professor para avaliar seu progresso e corrigir vícios, boa vontade para vencer os desafios e obstáculos mentais e disciplina.
REFERENCIA:
www.integrallife.com