segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O cérebro e a Meditação


O cérebro e a Meditação –
A ciência comprova que meditar todos os dias faz bem ao cérebro

Escrevo muito sobre meditação e entre tantas técnicas muito sobre Mindfulness e Loving Kindness porque acredito muito nos efeitos benéficos delas. São mais de 2.000 estudos e pesquisas sobre o assunto. Muitos são sobre as descobertas da neurociência. Nunca se pesquisou tanto, isto é incentivador!

Infelizmente ainda tem muita gente cética a este respeito. Por isto continuo a escrever e a salientar a importância da meditação, sentar todos os dias de forma disciplinada e  perseverante, procurar por um bom instrutor faz toda a diferença tanto na vida pessoal como na profissional. Muda a forma como você vai se relacionar com as pessoas, trabalhar em equipe, lidar com os problemas e obstáculos da vida. Meditar aumenta a Compaixão, muda a forma como passamos a ver a vida, traz um estado de plenitude e calma, aumenta a concentração e foco. Poderíamos até parar por aqui!

Mas você sabia que a Neurociência descobriu que o nosso cérebro é plástico, e que meditar todos os dias causa transformações na estrutura do cérebro? Conheça seu cérebro:

·        A parte do cérebro que permite que olhemos para as coisas com uma perspectiva mais racional, lógica e equilibrada chama-se Córtex Pré Frontal Lateral. Esta é a região que modula as respostas emocionais, principalmente as provenientes do medo, substituindo os comportamentos e hábitos do piloto automático, diminuindo a tendência que temos de levar as coisas tanto para o lado pessoal;

·        Outra parte do cérebro pesquisada é a Medial Córtex Pré Frontal, que é a parte que processa as informações relacionadas a você, mesmo quando estamos sonhando acordado, ou sonhando com o futuro, fazendo reflexões sobre nós mesmos, interagindo socialmente ou sentindo empatia – é conhecido como Centro de auto referência.

·        A parte envolvida no processamento das informações relacionadas a você e as pessoas que você vê como semelhante a você chama-se Córtex Pré Frontal Ventro Medial. Esta parte nos faz levar as coisas para o lado pessoal.  Esta área do cérebro tem funções muito importantes – aqui alteramos através de práticas de concentração a superação da ansiedade, depressão e hábitos nocivos, porém aqui que surgem as ruminações mentais, preocupações exacerbadas, pensamentos fantasiosos, emoções depressivas.

·        A parte envolvida no processamento das informações relacionadas na forma como você vê as pessoas que considera diferentes de você é o Córtex Pré Frontal Dorso Medial. Aqui estão envolvidos o processo de empatia e a manutenção das relações interpessoais.

·        O controle das sensações corporais é feita pela Ínsula. Junto com outras partes do cérebro temos o processamento de como iremos responder às sensações do corpo (bom ou ruim?). Também está envolvida na forma como sentimos e experimentamos a empatia.

·        O sistema de alarme do cérebro está na Amígdala, principalmente no que se refere ao medo. É a parte que processa a nossa resposta emocional inicial e as reações (luta fuga ou enfrentamento).

É comum na primeira aula de meditação, os alunos iniciantes demonstrarem como são mais propensos a assumirem que tem um problema (relacionado ao sentimento de segurança) quando sente ansiedade, coceira, formigamento etc. também alega estarem preso a pensamentos ruminantes, sobre erros cometidos, situações do passado, a importância sobre os que outros pensam ou sentem e muito mais. Isto acontece porque a conexão entre o centro de avaliação e o Córtex Pré Frontal Medial é relativamente fraca.  Quando o Centro de Avaliação trabalha com sua capacidade aumentada, ela modula a atividade excessiva do Córtex Pré Frontal Ventro Medial e aumenta a atividade do Córtex Pré Frontal Dorso Medial – estas atividades nos levam a tomar decisões mais relevantes, descartamos as informações duvidosas ou erradas, e vemos as coisas a partir de uma perspectiva mais equilibrada, diminuímos os pensamentos ruminantes ou fantasiosos, as cismas e as preocupações.

Porém conforme os alunos vão se tornando disciplinados e avançados em sua prática, começam a trocar mais experiências positivas. Dificilmente assumem uma sensação física ou emocional negativa momentânea como um problema. A ansiedade diminui porque os caminhos neurais que ligam essas sensações negativas ao Córtex Pré Frontal Medial vão diminuindo. ou seja aumenta a capacidade de ver as coisas como são realmente e de não responder tão fortemente às sensações porque o Centro de Avaliação está mais reforçada. Olhamos para todas as sensações com mais racionalidade em vez de reagirmos automaticamente baseado do medo e na insegurança.

E quer saber mais:
·        Muitas pesquisas sobre meditação usam o Eletroencefalograma (EEG) para medir as atividades das ondas cerebrais. E na maioria das práticas meditativas os padrões de EEG apresentam uma desaceleração e sincronização de ondas cerebrais, com predominância das ondas Alfa, relacionado ao estado de vigília relaxado (Niedermeyer & Da Silva, 1993), a tensão emocional atenua ou bloqueia o ritmo Alfa. Praticantes avançados demonstram uma desaceleração ainda maior com possibilidade de surgimento das ondas Teta. Padrões consistentes com relaxamento profundo. O ritmo Teta também está associado aos processos emocionais e indica maturidade relativa dos mecanismos que ligam o Córtex, Tálamo, Hipotálamo; também é o ritmo conectado à expansão dos estados de consciência ( Niedermeyer & Da Silva 1993). Muitos praticantes de meditação continuam a apresentar alterações nos ritmos Alfa e Teta mesmo após o término da prática (Wallace et all,1971).

·        O estudo de Timmons e seus colaboradores compararam diferentes tipos de meditação e descobriu que a diafragmática ou a respiração abdominal profunda está associada à resposta do ritmo Alfa. A respiração é um objeto de concentração muito importante nas práticas meditativas orientais.

Graças as descobertas da Neuroplasticidade nós agora sabemos que temos a capacidade de:

·      Reativar circuitos adormecidos – agora sabemos que nunca esquecemos completamente uma habilidade desenvolvida. Somente precisamos de um curto período de prática para reaprendermos a usar;

·      Criamos novo circuito – Novos neurônios responsáveis pelo cheiro surgem em poucas semanas e substituem os antigos. Sempre que estamos aprendendo algo novo, o cérebro reforça as conexões neuronais existentes e cria novas sinapses que permitem maximizar novas habilidades.

·      Religa circuitos – Partes de seu cérebro que foram usadas para uma finalidade podem ser utilizadas para novas tarefas.  É o caso de vitimas de derrame. (Tive um aluno de meditação com dois AvC graves que depois de um ano de prática de meditação disciplinada começou a andar sem precisar de apoio ou bengala, e voltou a dirigir seu carro!);

E ainda existem muitas outras pesquisas, muitas descobertas e muita motivação para praticar meditação!

Muitos alunos buscam aprender uma técnica por motivos espirituais, autoconhecimento, outros aparecem simplesmente porque virão na mídia que meditar é bom e, muitos procuram porque meditar ajuda a lidar melhor com as dores crônicas, diminui a ansiedade/depressão, a vivenciar melhor seus graves problemas de saúde e seus sintomas como câncer, artroses etc. independente do porque procuram, as mudanças que experimentam servem de motivação para todo o grupo.

Em muitos países aulas de meditação já fazem parte do curriculum normal das escolas, e inclusive das escolas de nível superior, como as escolas de administração ou do Curso de Direito nos Estados Unidos. Como terapia complementar a meditação também já usada como parte do tratamento em muitas áreas da medicina, aliando-se às praticas integrativas como Reiki e Yoga.

Ao saber quantas mudanças positivas as praticas meditativas podem oferecer tanto no nível de saúde física como mental e emocional fico a cada mais motivada a ampliar meus conhecimentos sobre as técnicas de meditação, e espero realmente ver a ampliação de seu uso em outras áreas da vida cotidiana.

Referência:
·        Davidson JM – A fisiologia da meditação e estados místicos de consciência – Perspectivas Bio Med 19: 345-79, 1976
·        Niedmeyer E & Da Silva – Electroencephalograpy: Princípios Básicos, as aplicações clínicas e áreas afins, Baltimore Willians, 1993
·        Wallace RK – Efeitos Fisiológicos da Meditação. Ciência 167: 1751-4
·        Walsh R. - Experiencias Meditativas Iniciais. Em D. Shapiro & R. Walsh – Meditação: Perspectivas Clássicas e Contemporâneas New York, 1984
·        Timmons B, Salamy J, Kamiya – Abdominal Torácica: movimentos respiratórios e níveis e excitação. Psychonomic Science 27
·        www.psycholoytoday.com

·        www.ejmas.com

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