A prática do Zen é se tornar intimo com o que
é! À medida que estamos ajudando pessoas reais e seus relacionamentos, o que
poderia ser então mais importante? Devemos oferecer aos nossos clientes, alunos
ou pacientes nossa autêntica presença, o nosso coração e a nossa vontade de
revolver a sua dor e medo, bem como seus sucessos e fracassos. Como praticantes
de meditação, nós projetamos a realidade de que estamos em uma jornada sagrada
com os nossos clientes. Pois temos a sorte de profundamente experimentar uma
conexão com as pessoas, apesar da verdade de que raramente sabemos exatamente o
que estamos fazendo. Esta visão da prática é simples, porém não é nada fácil de
realizar.
Uma formação convencional na área de Saúde
Mental ou assistencial ou quem sabe até na área educacional reflete cada vez
mais uma visão diferente sobre a ajuda, que nos referimos aqui como uma
historia sobre a prática da meditação. Praticantes e estudiosos que são
defensores da prática baseiam-se em evidências, como por exemplo:
a) Estudos
comprovam-se extremamente úteis para determinar o que fazer com o cliente;
b) A redução da
complexa realidade do cliente em um fator diagnosticável mais amigável de se
lidar, e que existem muitas ferramentas úteis para amenizar ou até curar seu
sofrimento;
c) Ajudar os
clientes iniciantes na prática que muitas vezes são ignorantes a respeito do
verdadeiro valor da investigação dos resultados da prática contemplativa ou são
demasiados medrosos para olharem para a sua própria intuição, ou irresponsáveis
de mais para observar os resultados conquistados como parte do processo
meditativo. Muitas vezes usamos determinadas palavras chiques para a história e
chamamos isto de paradigma. Adoramos citar multidões de estudiosos e cientistas
que disseram coisas semelhantes de forma a valorizar o nosso trabalho.
Princípios
Espirituais que ajudam
É fundamental o conhecimento teórico e
pratico para ajudar o outro, porém sempre existe a incerteza e o não-saber, que
interferem com a nossa percepção direta e no nosso engajamento com o cliente.
Nós somente somos mais capazes de servir aos nossos clientes ou pacientes se os
nossos corações permanecerem abertos para o que eles têm a dizer, e devemos
independente do que ouvimos agir de forma compassiva e coração aberto e
disponível ao amor incondicional.
A metáfora Zen – forte para trás e leve para
frente – lembra-nos que o nosso trabalho envolve também a região abaixo do
nosso pescoço, pois é no nosso coração aberto que floresce toda a ajuda
possível, pois é nesta região que nós somos estáveis e claros, e conseguimos um
maior contato com a estrutura que o outro abre para nós. Devemos ver nos nossos
encontros com o outro as oportunidades pessoais para estarmos plenamente vivos
e totalmente presentes no momento. A nossa autoconsciência momento a momento e
a qualidade da presença é um bem precioso e vital para os clientes.
Ser autoconsciente não é ser auto-obssessivo
em relação ao desempenho profissional, não devemos estar distraídos, mas
devemos na verdade estar atentos com o mundo do Eu e do outro. Eficácia com o
atendimento ao cliente e ao mesmo tempo praticante contemplativo está
inter-relacionada. Pois à medida que cada vez mais confiamos no momento
presente, as respostas emergem da profunda sabedoria em vez de prontamente
reagirmos no esquema tradicional – luta ou fuga – ou nas tentativas
superficiais de agarrar às nossas certezas teóricas.
A radical aceitação do que é sob a forma de
“nossos clientes, nosso consultório, as condições da nossa comunidade, assim
como nossas próprias respostas, humores ou pensamentos”, oferecem uma base de
transformação e mudança. Embora o termo possa parecer sugerir o contrário, a
aceitação radical do momento presente não é sobre deixar “rolar” sobre a face
da opressão. Temos que testemunhar a maneira como lidamos com os nossos
clientes, seus traumas e o nosso próprio trauma muitas vezes ali refletido.
Pois testemunhar envolve a nossa vontade de entrar na incerteza e escutar
profundamente, sem apego ao resultado, e nossa capacidade para segurar a dor do
cliente sem sermos oprimidos. Tendo testemunhado, a realidade social pode
fornecer uma base para se engajar e agir também junto à própria comunidade.
Porque estamos intimamente ligados aos nossos
clientes e a comunidade; este engajamento essencial é uma forma de
espiritualidade, pois a narrativa do meu cliente é a minha própria e se não
fosse por algumas circunstancias ou condições biológicas ou sociais, nós
poderíamos facilmente trocar de lugar, e sentarmos na cadeira do cliente, e ele
na nossa. Nós não somos melhores que
nossos clientes, alunos ou pacientes. Devemos apenas observar como nosso
pensamento limitado retrata na verdade muitas questões como dualidades.
Psicologia
Contemplativa
À medida que aprendemos, praticamos e incorporamos
os princípios encontrados na Psicologia Budista e na prática da Meditação Zen,
entramos em contato com recursos pessoais anteriormente subutilizados no nosso
trabalho com o cliente. Percebemos que quanto mais nós mesmos praticamos a
meditação, menos distraídos permaneceremos durante as nossas sessões.
Começamos a ouvir os nossos clientes com os
nossos corações e quase que imediatamente nossa cabeça e nossas respostas
emergem menos a partir da luta ou fuga, julgamentos e críticas, rotuladas como
intervenções. Começamos a nos permitir nos preocuparmos mais com os nossos
clientes, para nos tornarmos mais inspirados por suas histórias ao ficarmos
cara a cara com a sua dor e com a realidade que faz que com trabalhemos no
desconhecido.
Com a Psicologia Contemplativa prosseguimos
nessa exploração baseado na sabedoria do Zen enfatizando – A qualidade
sacramental de cada momento (Austin,
1998 pag 12). E desta forma, fazemos
tudo o que podemos, a fim de entrar em cada momento plenamente. E cada vez mais
sentimos a experiência que sentar junto com o cliente ou o grupo, ou a sala de
aula e sentir este momento como um
evento sagrado e o quanto somos verdadeiramente afortunados por fazermos parte
dele. A nossa presença é fundamentada na nossa aceitação radical dos
sentimentos, pensamentos e circunstancias que surgem na nossa vida, na vida dos
nossos clientes, e a experiência momento a momento que se desenrola quando sentamos
juntos. Uma verdadeira jornada espiritual Zen e que é ao mesmo tempo muito
simples. Na nossa calma, de coração aberto, abordamos de forma sincera e
consciente tudo o que envolve a realidade ou assistimos ao mais ínfimo ato que
nos permite tocar o nível mais profundo da verdade, que alguns podem rotular como
Divino ou até mesmo como Deus. A nossa
conexão consciente, compassiva com um cliente em um consultório nos conecta com
todos os seres do mundo.
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