Muitas doenças físicas ou psicológicas são
acompanhadas de um quadro clínico complexo, muitas vezes com alto grau de
morbidade. Muitos traumas são acompanhados de consequências psíquicas
significativas que afetam a experiência dos pacientes internados ou não, com ou
sem acompanhamento psicoterapêutico. Muitos tratamentos clínicos simplesmente
mitigam os sintomas da doença e preservam a vida, porém não são curativos e nem
garantem a qualidade e o bem-estar. Ao contrário, o processo de tratamento pode
ser difícil e doloroso, mesmo sendo essencial, e por isto ele transforma a vida
do paciente, sua rotina, hábitos, relacionamentos interpessoais, o que causam
mudanças em sua integridade física e emocional, afetando diretamente a vida
social, profissional e familiar, incluindo até mesmo a perda da autonomia.
Ocorre que o paciente deve buscar adaptar-se ao
tratamento, à própria doença em si, e a todo desconforto fisiológico que muitas
provocam, e esta adaptação inclui não somente o aspecto psicossocial, mas
também o espiritual. As pesquisas comprovam que muitos pacientes conseguem
manter o nível de fé e na sua religião quando a possui buscando nela o apoio e
alivio para o sofrimento acompanhado de todas estas mudanças.
Sabemos hoje que a religião assim como a espiritualidade
está cada vez mais influenciando os tratamentos clínicos em geral e principalmente
incluímos a área da Saúde Mental, pois podem ser vistas como uma maneira de
encontrar um sentido para a vida, manter a esperança e o estado de calma e paz
mesmo durante os procedimentos clínicos mais dolorosos, ou os momentos de
profundo stress e angústias emocionais no set terapêutico, observamos isto nas
doenças e dores crônicas, tratamentos oncológicos, depressão e ansiedade. Estes
estudos acabaram determinando o desenvolvimento de novas técnicas de tratamento
como a Terapia Focada na Compaixão, o Cultivo da Consciência e Regulação
Emocional, Terapia Mindfulness entre outras. Além de cursos que motivam o
profissional a conhecer mais sobre o tema.
A religião pode ser compreendida como uma
expressão parcial da própria espiritualidade, praticada por diversas tradições
orientais e ocidentais, seus rituais e cerimônias e dos textos canônicos de
cada uma. Podemos dizer que a religião transmite uma herança cultural com seus
dogmas e doutrinas, e que a espiritualidade pode ser conceituada como a essência
do próprio indivíduo, que se manifesta na busca por um sentido mais claro do
significado e proposito da sua vida.
Estudos e pesquisas apontam que os efeitos da
espiritualidade e da religião possuem uma relação positiva em seus vários aspectos,
incluindo o bem-estar físico, mental e emocional, importantes principalmente
nas fases mais complexas do tratamento, das situações caóticas por ele
provocado e todo o stress que acompanha a doença seja ela física mental ou
emocional. Podemos considerar a espiritualidade e a religião como formas
estratégicas de enfrentamento no tratamento de todas as doenças.
Coping – pode ser
definido como um conjunto de estratégias cognitivas e comportamentais, na forma
que os indivíduos usam para melhor lidar com as situações estressantes tanto da
vida cotidiana como diante dos tratamentos pelos quais estejam passando. Cada religião
oferece recursos dentro das suas crenças para lidar com os fatores agressivos como
forma de ajudar o indivíduo em suas adversidades e o stress e a isto
denominamos Coping ou enfrentamento
religioso/espiritual.
Os profissionais tanto da área médica como os
da Saúde Mental devem procurar estudar a visão funcional de cada tradição
religiosa e a forma com que ensinam o enfrentamento diante de todos estes
fatores. Existem funções chaves comuns a todas as religiões que já foram
identificados, são eles: a busca do sentido, controle, conforto espiritual, a
intimidade com o Divino, consigo mesmo e com os outros, e formas de transformar
a vida. Com base nestas chaves, criaram-se métodos de enfrentamento religioso/espiritual
que são identificáveis. Infelizmente este conhecimento ainda não muito
pesquisado ou utilizado no Brasil, mas é um amplo tema para pesquisa, e sua
relevância tem provocado mudanças importantes na forma do profissional que
oferece o tratamento. No CCARE da Stanford University podemos encontrar
inúmeras pesquisas que comprovam a eficácia do Coping.
O enfrentamento ou Coping tem tanto conotações positivas como negativas, desta mesma
forma as estratégias religioso-espirituais também podem ser positivas ou
negativas e o profissional que acompanha o paciente deve estar com capacidade para
reconhecê-las. O Coping positivo possui medidas que exercem efeitos
benéficos sobre o paciente, como por exemplo: a busca pela proteção divina,
desenvolvimento de uma forma de conexão com a transcendência, busca pelo
conforto espiritual com o dirigente da sua religião, estudo da literatura
religiosa/espiritual entre outros. Já o Coping
negativo, pode ser relacionado com as medidas de enfrentamento que causam consequências
prejudiciais, como por exemplo: o constante questionamento na existência de
Deus, a delegação da solução dos problemas ao Divino, usando a doença como
uma forma de punição dada por Deus, conflitos com a sua comunidade, dúvidas do poder justiça e amor de Deus, esperar passivamente pela intercessão divina ou por milagres, etc.
Tornou-se muito importante que os
profissionais da Saúde, inclusive Psicólogos Psiquiatras e Psicoterapeutas
compreendam como o seu paciente lida com o tema, de modo que todo este conjunto
de medidas e recursos oferecidos possam fazer parte da terapia, respeitando a crença de cada indivíduo, o profissional também deve levar em questão a necessidade de não impor a sua própria crença, deve também considerar o líder religioso como um aliado, não patologizar estados místicos como clínicos, conhecer que certas vivência podem ser melhor aplicadas pelo líder religioso, deve manter um estado de humildade, paciência, espírito humanitário e e legitimidade científica . E aqui podemos
falar em terapia holística.
Conhecer mesmo que sem a profundidade de um estudioso
das religiões os métodos de enfrentamento de cada religião/espiritualidade podem
servir como ferramentas de apoio muito significativas para lidar com o paciente
independente do grau de gravidade de seu estado físico, mental ou emocional, e
desta forma ajuda-lo a utilizar os recursos em seu próprio benefício.
Quem desejar mais informações sobre este tema
tão relevante faço o convite para a Palestra sobre Coping
Religioso/Espiritual do dia 27 de Junho.
Inscrições abertas pelo e-mail: saleela.devi@gmail.com
onde serão passadas todas as informações a respeito.
Referência:
- Psychotherapy And Spirituality – Agneta Schreurs
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