segunda-feira, 19 de maio de 2014

Meditação Zen

História do Zen
Bodhidharma, monge budista indiano cruzou o Oceano Indico, aproximadamente em 520 dC. Em direção à China, onde se encontrou com o Imperador Amarelo dando início ao Ch’na. Tornou-se assim o primeiro patriarca chinês.
O Budismo já se encontrava na China, tendo até mesmo o Imperador Wu Ti (502 – 540) com um grande devoto. Patrocinou a construção de muitos mosteiros e templos budistas, sustentou Mestres de inúmeras seitas budistas. Acreditava que por entender os ensinamentos e patrocinar os templos deveria “merecer” um reino feliz e prospero e feliz e ter o privilegio de reencarnar em Terra Pura, onde ele acreditava que teria todas as condições de realizar a iluminação.
Por isto quando soube da chegada de Bodhidharma percebeu a grande oportunidade de se encontrar com um Mestre Iluminado. Conta-se que ao se encontrar com Bodhidharma, o imperador perguntou:
Tenho construído muitos templos, copiados inúmeros Sutras e ordenado muitos monges, desde que me tornei um imperador. Portanto, pergunto-lhe: qual é o meu mérito?
Nenhum! Respondeu prontamente Bodhidharma.
O imperador insistiu: Por que não tenho mérito?
Bodhidharma respondeu: Fazer as coisas para obter mérito tem um motivo impuro e só revelará o fruto mesquinho do renascimento.
O imperador, um tanto aborrecido, perguntou: Qual é o princípio mais importante do Budismo?
Ao que Bodhidharma respondeu: Um grande vazio. Nada sagrado!
O imperador ficou confuso com a resposta e indignado inquiriu: QUEM É ESTE QUE ESTÁ DIANTE DE MIM?
Bodhidharma respondeu tranquilamente: Eu não sei!
Bodhidharma percebeu que o imperador não entendeu nada e deu continuidade à sua viagem, cruzando o rio em direção a Shaolin, onde por nove anos meditou voltado para a parede de uma gruta.
Wu Ti contou a um de seus ministros sobre sua conversa com Bodhidharma, ao que o ministro perguntou: “Vossa majestade imperial sabe quem é esta pessoa?” O imperador não sabia. E o ministro disse: “Ele é o Bodhisattva da Compaixão, é o portador do selo do coração do Budha”. Arrependido o imperador mandou buscar Bodhidharma de volta à corte, mas seu ministro o advertiu: “Ainda que o mandasse buscar, ele não viria. Nem se todo o mundo, na China, fosse lhe pedir”.  E já neste tempo Bodhidharma atraia a cada dia um número maior de seguidores e com o passar dos anos confirmou Hui K’o como seu próximo sucessor do Dharma.
Assim nasceu um sistema contemplativo próprio dos chineses ligado aos ensinamentos de Lao T’su e de Ch’ung T’su (Taoismo). A maneira de viver é simples, profundamente associada ao Taoismo, seguindo o princípio Wu Wei (não fazer ou não esforço – no sentido de seguir as ilusões da mente). O Tao Te Ching começa assim:
O Tao que pode ser contado não é o Tao eterno.
O que não tem nome é o eternamente real.
Dar nomes é a origem de todas as coisas pessoais.
Livre do desejo, você compreende o mistério.
Apanhado em desejo, só vê as manifestações.
Embora mistérios e manifestações surjam da mesma fonte.
Esta fonte chama-se escuridão.
Escuridão dentro da escuridão.
Aporta de todo o entendimento.

A mistura da técnica indiana Budista com o Tao chinês de uma característica própria à meditação Ch’an. Ensina o terceiro Patriarca Hsin Hsin Ming:

O Grande caminho não é difícil.
Para aqueles que não têm preferências.
Quando amor e ódio estão ausentes.
Tudo se torna claro e indistinto.
Faça a menor distinção, entretanto,
E o céu e a terra serão infinitamente postos de lado.

Outro nome renomado do Budismo Ch’na é Hui Neng (Sexto Patriarca). Conta-se que se iluminou ao ouvir  um monge ler o Sutra do Diamante. Seu mestre ao perceber sua iluminação, o colocou para trabalhar na cozinha do mosteiro, temia uma indignação por parte dos monges mais velhos. Passaram-se oito meses até que o Mestre do Mosteiro teve uma idéia: anunciou durante uma reunião que se, algum deles pudesse compor uma poesia falando sobre a essência do Ch’na, ele lhe daria a “transmissão”, o manto e a tigela de sexto patriarca. Havia um favorito entre os monges, Shen Hsin, que escreveu o verso abaixo, sem assinar, na parede do mosteiro, tarde da noite:

Nosso corpo é a árvore Bodhi.
Nossa mente, um espelho brilhante.
Cuidadosamente nós os limpamos minuto a minuto.
E não deixamos nenhuma poeira ali pousar.

Quando os monges viram ficaram maravilhados e decidiram que nada melhor poderia ser escrito. Entretanto, Hui Neng, ao passar pelo corredor, perguntou pelo verso que seria lido para ele (ele não sabia que haveria um teste) e cantou seu próprio poema:

A árvore Bodhi não existe;
Nem sequer um espelho brilhante.
Já que tudo é vazio.
Onde pode a poeira pousar?

Todos ficaram surpresos, o Mestre reconheceu imediatamente o trabalho de alguém que entendeu verdadeiramente a essência da mente e apagou a poesia que estava escrita na parede, pois temia expor Hui Neng ao ciúmes do demais monges e também por lealdade a Shen Hsin.

Hui Neng foi então convocado para estar diante do Mestre naquela mesma noite. E dele recebeu o manto e a tigela (dizem ser as mesmas que pertenceram a Bodhidharma) e mandado para o Sul. E assim durante mais de quinze anos Hui Neng permaneceu no anonimato, até que seu Mestre decidisse pela hora de revelar quem era o Sexto Patriarca. Surgiram então duas escolas: Escola do Sudeste fundada por Hui Neng e a Escola do Nordeste fundada por Shen Hsin (que desapareceu mais tarde). Hui Neng teve quarenta e três sucessores, a escola fundada por ele foi a semente para o desenvolvimento das duas seitas Zen no Japão: Soto e a Rinzai.

Os ensinamentos da meditação Zen que vamos estudar, serão os da escola Soto, fundada no Japão pelo Mestre Eihei Dogen Kigen.

A Historia de Dogen e o Zen no Japão

Dogen nasceu em 1200. Depois de perder os pais ainda criança foi morar com um tio, que era um grande devoto do Budismo. A perda dos pais e a influencia do tio o ajudaram na decisão de tornar-se monge. E assim foi estudar com Myosen, no Mosteiro de kenninjo. E ali completou seus estudos na tradição Rinzai, recebendo o selo de mestre.





Porém não se sentia satisfeito, pois não havia encontrado a resposta para o seu dilema sobre o significado da vida. Tomou a decisão de empreender uma viagem muito arriscada para a China, era 1223. Lá estudou com Ju Ching no Mosteiro T’ien T’ung. Foi um treinamento duro, Dogen se dedicou à prática do Zazen noite e dia. Ju Ching ao pegar um monge cochilando durante a prática da meditação ensinou: “A prática do Zazen é o deixar cair o corpo e a mente. O que espera conseguir cochilando? Ao ouvir estas palavras, Dogen compreendeu a Iluminação, o olho de sua mente abriu-se completamente. Dirigindo-se para  a sala onde se encontrava Ju Ching, para confirmar se a sua iluminação era genuína, Dogen queimou um incenso e prostou-se diante do Mestre.
“O que você quer dizer com isto? Perguntou Ju Ching.
Eu experimentei o deixar cair o corpo e a mente, respondeu Dogen.
Ju Ching, vendo que a iluminação de Dogen era verdadeira disse:
Você realmente deixou cair o corpo e a mente!
Dogen, entretanto, insistiu em dizer:
Eu apenas acabei de compreender a Iluminação,
Não me aprove com tanta facilidade.
Eu não o estou aprovando facilmente.
Dogen, ainda insatisfeito, persistiu:
Em que você se baseia para dizer que não me aprovou facilmente?
Ju Ching respondeu:
Corpo e mente caíram!

Ouvindo isto, Dogen, prostrou-se perante o Mestre em profundo respeito e gratidão, mostrando que realmente havia transcendido sua mente discriminatória.
Texto extraído do Dogen Zen, por Yuho Yokoi


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