Síndrome de
Burnout no Direito
Síndrome de Burnout – é um distúrbio psíquico
que leva a quadros depressivos precedidos de esgotamento físico e mental
intenso conforme definição de Herbert J. Freudenberger como: “um estado de esgotamento físico e mental
cuja causa está intimamente ligada à vida profissional”.
Não importa a profissão, atualmente o stress
faz parte da vida cotidiana em um mundo cada vez mais competitivo. Tensões
emocionais e stress crônico devido a condições de trabalho extenuantes levam
aos sintomas da Síndrome de Burnout. Embora encontremos nos profissionais das
mais diferentes áreas de trabalho, um aumento na incidência naquelas que lidam
direto e intensamente com outras pessoas e influenciam suas vidas. Duas profissões
onde encontramos maior número de profissionais com sintomas são os da área da
Saúde e a do Direito.
Sintomas – Muitos dos
sintomas no início se confundem com a depressão. Mas a Burnout trás consigo o
esgotamento físico e emocional que se refletem nos comportamentos como maior
agressividade, isolamento, mudanças de humor, irritabilidade, ideação suicida, dificuldade
de concentração, falha na memória, ansiedade, tristeza, pessimismo, baixa
autoestima, sentimentos negativos, emoções destrutivas, paranoia entre outros. Em
termos físicos enxaquecas, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores
musculares, insônia, distúrbios gastrointestinais, respiratórios e
cardiovasculares e nas mulheres alterações no ciclo menstrual. Estes sintomas
impactam profundamente na vida profissional e pessoal.
O que
Burnout não é? - Não é apenas stress, embora o stress possa levar ao Burnout,
também não é tédio muito embora quem sofre com o Burnout sinta-se desanimado
com a vida profissional e o rumo que ela está tomando; além do fato que a
produtividade cai profundamente pois o profissional não tem mais prazer no
trabalho e nem se sente gratificado ou criativo. Portanto a Síndrome não pode
ser ignorada nem deixada para depois. Não é uma desgraça, mas um alerta!
No Direito – Martin EP
Seligman e seus colegas Paul R Verkuil e Terry H Kang publicaram um artigo – Porque os advogados são infelizes – na Deakin
Law Review, e neste artigo apontam para o número crescente de advogados que se
sentem infelizes com a sua profissão nos Estados Unidos. Isto acontece devido à
natureza competitiva do sistema jurídico, pressão por resultados, autonomia
limitada, na natureza pessimista da análise jurídica que se centra na
identificação e antecipação de problemas. Muitos profissionais da área Jurídica
sentem a falta de controle sobre as suas carreiras, longas horas de trabalho
diário, falta de comunicação ou feedback eficaz, falta de clientes ou clientes
difíceis ou clientes que relatam problemas que não são da área jurídica utilizando
o advogado como psicólogo ou outro profissional, histórias carregadas de
sofrimento e angustias que não podem ser solucionadas no escritório do advogado
mas que estressam o profissional. Além das demandas do ambiente profissional
que podem tornar-se elevadas demais influenciando também na vida pessoal e
impedindo horas de lazer e relaxamento.
As 12 etapas
da Síndrome de Burnout segundo Freudenberger – Segundo o pesquisador a
progressão geral da Síndrome passa por 12 etapas:
1. Compulsão
para provar a si mesmo;
2. Trabalho
duro;
3. Negligencia
as necessidades do outro;
4. Deslocamento
de conflitos;
5. Necessidade
de rever valores;
6. Negação dos
problemas emergentes;
7. Afastamentos
da vida social;
8. Mudanças comportamentais
e de humor;
9. Despersonalização;
10. Sentimento
de vazio interior;
11. Depressão;
12. Síndrome de
Burnout
Quando o jovem advogado se forma e passa no
exame da Ordem dando início ao desenvolvimento de sua carreira, ele
automaticamente desenvolve uma necessidade de provar sua competência, ofuscar
seus pares e se destacar por suas habilidades. Não se dá conta que colocou os pés no caminho
que leva ao Burnout.
Para acentuar os primeiros sintomas, são colocadas
sobre ele as mais altas expectativas pessoais, a necessidade de provar que é
insubstituível e que consegue lidar com todas as pressões - sozinho. Procurar
um Coach ou uma terapia não se torna uma opção pois crê que poderia passar a
impressão de fraqueza. Assim trabalha mais e mais ignorando suas próprias necessidades
básicas de relaxamento lazer e descanso, dormindo pouco e trabalhando ou
estudando nos finais de semana.
Muito embora nem todos os problemas que os
advogados enfrentam possam ser atribuídos à sua linha de trabalho, são altas as
taxas de Burnout na área jurídica, o que
sugere que certas características estressantes de ser um advogado deve ter pelo
menos um efeito contributivo.
As exigências profissionais são muitas e
incluem: pressões de tempo, sobrecarga de trabalho, concorrência, necessidade
de conhecer uma ampla gama de temas jurídicos, necessidade de estar atualizado,
dificuldade de equilibrar vida pessoal com as obrigações profissionais, lidar
com casos complexos ou pessoas difíceis. Dificuldade para lidar com resultados muitas
vezes injustos. Além das exigências psicológicas que levem o profissional na
busca constante pelo perfeccionismo. Constante observância aos detalhes e
análise lógica e objetiva, por isto, é comum muitos se tornarem workholics. Quando
o nível de perfeição não é alcançado a insatisfação torna-se constante. Muitas vezes
seus valores pessoais são confrontados com os valores do ambiente profissional,
o que gera conflito psicológico profundo, que piora quando o profissional se
recusa a buscar ajuda psicoterapêutica, desenvolvendo sentimentos crônicos de
culpa e infelicidade.
Muitos advogados se queixam de não
conseguirem tirar um tempo real de férias. A falta de tempo para relaxar e ter
lazer implica potencialmente na saúde física e mental. Muito embora a profissão
exija longas horas de trabalho para atender á carga de trabalho excessiva e clientes
exigentes, principalmente para os profissionais associados ou autônomos é
fundamental que o advogado aprenda a
gerir o tempo e estabelecer uma agenda de trabalho que inclua períodos de
férias, mesmo que o ambiente de trabalho sugira que isto não seja sensato.
Advogados podem também serem pressionados
pelos clientes para realizarem um excelente trabalho, de modo acelerado com uma
relação custo-benefício eficiente. O cliente tem uma percepção entre as horas
faturadas e os problemas que eles têm, porém para o advogado existe o problema
da imprevisibilidade no que diz respeito ao comportamento do cliente, o
atendimento das expectativas e sua capacidade legal de resolver o problema com
custo eficiente.
Lidar com pessoas criminalmente perigosas,
dificuldades financeiras, famílias ou rupturas conjugais complexas, humilhação
pública, sabendo que muitas vezes o cliente não interage de forma construtiva. O
advogado tem consciência que p cliente depende dele para garantir a sua
liberdade, manter a sua qualidade de vida, obter a custódia de uma criança ou
manter a viabilidade financeira. É enorme a pressão para preservar o bem –
estar do cliente. São sempre questões sensíveis em que o emocional do advogado
é colocado em check, o trabalho árduo do advogado pode passar despercebido.
Se não há uma interrupção neste processo, nem
ajuda de um profissional adequado, surge à sensação de vazio interior. Os próximos
estágios levam à depressão, colapso físico e emocional.
Solução em 3
etapas
– A solução começa com três etapas:
1. Reconhecer a
situação e os sintomas;
2. Reduzir o
stress buscando ajuda com profissional da saúde mental;
3. Desenvolver a
resiliência, mais recursos físicos, emocionais e até mesmo espirituais.
Algumas sugestões
– Quando o
profissional se encontra nas fases iniciais ele pode diminuir os sintomas da Síndrome
com estas sugestões:
1. Faça uma
lista das coisas que dão significado à vida, ao trabalho ou ao momento atual da
profissão. Considere quando começou e onde está agora, estabeleça uma meta de
chegada e o que precisa fazer para alcança-la. Afinal o que dá sentido á sua
vida? Observe as coisas positivas que reforçam o bem estar e a gratificação
quando se sente frustrado.
2. Dieta
equilibrada, regular e disciplinada. Respeite os momentos dedicados à
alimentação, e quando estiver comendo, apenas coma, não leve o trabalho junto.
Pratique exercícios físicos regularmente, procure um profissional adequado ou
uma academia para uma orientação e atente para seguir suas recomendações para
os exercícios de acordo com suas aptidões físicas.
3. Contato
social – A vida do profissional de Direito exige bons contatos profissionais. Ter
novos amigos é bom, mas cultivar velhas amizades é melhor ainda. É muito
importante criar histórias e memórias comuns.
4. Tempo –
Estabeleça tempo para a vida profissional, tempo para lazer e relaxamento,
tempo para a família e tempo para cuidar da saúde. Procure descobrir coisas que
realmente gosta de fazer e faça. Busque fazer coisas divertidas e diferentes. E
tenha tempo para se dedicar aos cuidados da sua saúde mental emocional e até
mesmo espiritual, ter alguém de confiança com quem possa conversar abertamente
e que pode alertá-lo quando estiver ultrapassando os seus próprios limites.
5. Desenvolva
qualidade de vida.
Duas novas
Terapias –
As técnicas de tratamento da Síndrome de Burnout são muitas, mas duas têm
protocolos científicos comprovando suas eficácias e profundos e duradouros
benefícios: Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR) e a Terapia Focada na
Compaixão (CFT).
MBSR – A prática
regular da Mindfulness (Atenção Plena) produz benefícios múltiplos no
desenvolvimento da atenção plena que incluem: mudanças de comportamentos e
hábitos, autorregulação e controle emocional, regulação da pressão arterial,
melhora na qualidade do sono, melhora da memória (devido ao aumento da massa
cinzenta do cérebro), maior inteligência emocional, diminuição ou cura das
dores crônicas, diminuição do stress e seus sintomas, melhora a comunicação e
os relacionamentos interpessoais, desenvolve a resiliência, melhora o reconhecimento
dos sintomas físicos, diminui a agressividade, desenvolve a liderança
consciente principalmente nos trabalhos em equipe.
A atenção plena tem sido associada a um
número grande de benefícios para a saúde física mental e emocional, incluindo maior
facilidade para lidar com as tensões, melhora no funcionamento cognitivo,
diminui os riscos de desenvolvimento de diversas doenças crônicas, aumenta a
criatividade e a empatia.
O treinamento da mente com Mindfulness aliado
á Terapia Focada na Compaixão proporcionam:
1. Aumento das
emoções positivas e diminuição das emoções destrutivas, que produzem uma ampla
gama de recursos pessoais (aumento da atenção plena, encontro do propósito de
vida, apoio social, diminuição dos sintomas da doença), mais satisfação com a
vida, redução do stress;
2. Conexão
social positiva – efeito moderado na base tônus vagal marcador fisiológico do
bem-estar;
3. Diminuição da
enxaqueca e outras dores crônicas – alívio da tensão emocional associada a
dores crônicas, raiva e sofrimento psicológico;
4. Ativa a
empatia e processamento emocional do cérebro;
5. Aumento da
massa cinzenta do cérebro e outros aspectos da neuroplasticidade – áreas do
cérebro relacionadas com a regulação da emoção;
6. Relaxamento –
controle cardíaco parassimpático (capacidade de entrar em um estado de
relaxamento e reparação);
7. Diminuição no
processo de envelhecimento – As duas técnicas atuam diretamente nos telômeros
(marcador biológico do envelhecimento);
8. Aumento da
empatia – Comportamento pró-social, aumento da compaixão por si - mesmo e com o
outro; experiências afetivas positivas; diminui o preconceito implícito contra
as minorias; maior percepção de conexão social.
A prática regular e disciplinada (em torno de
24 minutos diariamente, e que podem ser divididos em dois períodos) cultiva uma
consciência voltada para o momento presente, por isto não só previne o Burnout
como ajuda a lidar com todos os sintomas e o tratamento médico necessário.
Mas se você já percebeu os sintomas da
Síndrome de Burnout não permita que a sua evolução o leva à quadros de depressão
crônica e outras doenças graves. O tratamento para a Síndrome inclui a
psicoterapia, medicação, mudanças no estilo de vida, atividade física regular. É
muito importante inclusive uma análise junto com o psicoterapeuta para avaliar
se é o ambiente profissional que levou ao desenvolvimento do Burnout ou são as
atitudes da própria pessoa que gerou a Síndrome.
Sonia A F
Santos
– Psicoterapeuta, Mindfulness Therapist e Compassion Therapist. Facilitadora do
programa de Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR) e do Curso Intensivo de
Mindfulness. Atende com hora marcada. Contato: saleela.devi@gmail.com consultas
presenciais ou On Line.
Informe-se sobre palestras gratuitas (dependendo da localidade) sobre Mindfulness e Terapia Focada na Compaixão e sobre Curso Intensivo de Mindfulness Based Stress Reduction para profissionais da área Jurídica ou sobre a participação no Encontro de Mindfulness e Compaixão no feriado de 12 de outivro no Centro Paulus/SP.
Informe-se sobre palestras gratuitas (dependendo da localidade) sobre Mindfulness e Terapia Focada na Compaixão e sobre Curso Intensivo de Mindfulness Based Stress Reduction para profissionais da área Jurídica ou sobre a participação no Encontro de Mindfulness e Compaixão no feriado de 12 de outivro no Centro Paulus/SP.
Referências:
·
Emma Seppala,
PhD – The Science of Happiness Health & Sucess;
·
www.lawyerwithdepression.com
·
Cary
Cherniss – Beyond Burnout: Helping Teachers, Nurses, Therapist and Lawyers